julho 07, 2023

dizer, dizer que você era a primeira
pessoa que dizer era um prazer para
mim. que o tempo não cabia nas palavras,
que as pessoas não cabiam nas histórias,
que as madrugadas não cabiam nos finais.
dizer, e ficou tanto. e não porque as palavras
em si, importantes, não foram ditas, e por serem
não foi possível contar os contos futuros dos
personagens que deixamos em rascunhos
dizer, ainda pareço perdida quando tenho
que correr para espalhar alguma boa notícia:
amanheceu sol hoje, vamos tomar café,
te vejo no final de semana, estou lendo um
bom livro, tenho um lugar novo pra viajar.
dizer, é tão mais sobre para quem.
porque por mais bonito que seja,
às vezes sentido não faz

Cáh Morandi

julho 05, 2023

atravessando o dia
para encontrar
você, pensando que
entre a hora
que você sai da
minha cama e
volta para ela,
nada acontece
parece
que tudo de importante
preenchendo o tempo
é coisa que se esquece:
eu não lembro

Cáh Morandi

julho 04, 2023

me pego emocionada com certa constância
de repente uma lágrima, mas acompanhada
de um riso. é como chorar de rir, mas…
um pouco mais delicado e íntimo
no tempo em que dedico em retirar
parte por parte das camadas que me
escondem da simplicidade de mim
surge essa sensação descontrolada
não tento estanca-la às pressas com
minhas conhecidas compressas de
realidade, crenças antigas e desespero
há um fluxo nessas lágrimas,
há uma melodia nesse riso,
não posso me conter

Cáh Morandi
bem ao lado mora
o perigo, quase
dentro do mesmo
pensamento em
que acolhe
eu brinco com
o fogo, olhe!
não queima,
parece esquentar
transito entre o
seguro e o desconfiável
parecendo muito esperta,
mas não sou. e sabendo
disso, faço bom uso

Cáh Morandi

julho 02, 2023

onde o caminho vai dar?
acho que essa não é
pergunta de fazer, é
sobre coragem de
andar e não se
preocupar com o
destino
quero ir contigo,
e é no indo que
tudo acontece
qual caminho você
desconhece?

Cáh Morandi
se puder, um dia desses
me conta como é que é
isso de esquecer, fácil.
esquecer e ponto.
esquecer e deu.
e só ir, continuar andando
como se nada, nem doeu.
se esse segredo desse
para não me guardar,
ah, me pouparia muito
de não andar por aí
com essa pergunta
engasgada
queria era saber
no fundo, no fundo
se engana ou apenas
me mente

Cáh Morandi
para dormir busco
enroscar a perna,
encaixar o quadril,
colar as costas e
bem quase sútil
ver se no teu braço
cabe o peso e o cheiro
dos meus cabelos,
se recostando com
os sonhos que deixo
perto de ti, para respirarem
sua forca de existir pelo teu ar
adormecer contigo
é sonhar pensando
que algo é milagrosamente
possível e pode acontecer,
já aconteceu, está acontecendo

Cáh Morandi
coisa boa, não é?
um amor no fim
do dia, do vinho,
do medo, no
começo do
desejo
eu digo que é,
é mesmo você.

Cáh Morandi
quando assim:
está só eu e você
e sentimos que
somos todo
mundo e baixamos
todas as guardas, ao
ponto de não acreditar
no tempo e nos nossos
inúteis espaços
eu entendo o que ter
a liberdade de um amor
para se prender

Cáh Morandi

junho 26, 2023

a felicidade fazia tempo
que não me visitava assim,
aliás, dessa vez percebi que
ela veio de mala e cuia
parece que irá ficar
ou que ficarei nela
não temos pressa
nem acordos de idas
e vindas, chega dessa
bobagem de parece
ter que terminar
quando se é
pena que a gente
esquece, e demora
pra lembrar e quando
lembra, nunca foi
outra coisa

Cáh Morandi

junho 22, 2023

gosto de te encontrar na
linha de um livro, na dobra
de uma camisa, nas mãos
nos bolsos de trás, na música
esperando o trânsito, no nome
que alguém grita na rua
esses lugares desconhecidos de
você, e que parecem tāo sagrados
para mim. porque de alguma coisa
me lembram
eu falo das coisas pequenas,
das quem ninguém percebe,
das que se precisa ser íntimo
demais para entender o quanto
é belo só ver o outro existindo
porque te amo nas coisas simples,
há amor naquelas que pareciam grandes.
e por isso, posso te amar em tudo

Cáh Morandi
parece tão sútil essa dor
que você carrega no
peito e que te nega o
direito de me olhar,
de ficar, então
eu passo
passo a passo, a
distância vira possível
de medir e sentir, mas
que cansaço!
o que eu faço é mesmo ir,
para aonde há o tamanho
de um abraço, onde posso
existir

Cáh Morandi

junho 14, 2023

invento coisas de você,
e claro que sempre que comigo
nem cogito me ver, senão ao
seu lado, ainda mais
se é um pensamento
inventado, impossível,
indecente e indelicado
para quem não sente
eu sinto, sempre
sinto que posso
estar contigo, e
acredito fielmente

Cáh Morandi

junho 13, 2023

esse amor menino
dorme, suspira
entre o meu peito
esse sujeito, de
palavra bruta e
toque leve
rapaz que se atreve
em falar de amor
com quem escreve
calma, que entre
falar e escrever
há quem sinta:
isso não é breve

Cáh Morandi
pensei que o amor
não mandaria recado,
e meu corpo desacostumado,
não lia mais os sinais,
“perigo!”, era o aviso e também
tarde demais
o beijo tatuando a testa
os dedos dançando nas costas
o riso contando histórias
teu abraço dizendo “bem-vinda”,
meu Deus, é então possível
ser amável, ainda
e perceber o que fascinava:
te conheço desde quando
apenas te imaginava

Cáh Morandi 

de vez em quando
eu penso se
você também pensa
que talvez já deveríamos
ter o risco de
nos esbarrarmos
mas sem querer, é claro
ou então com um
propósito certo
porque
cruel é ter uma dúvida
que mora ao lado

Cáh Morandi
erro é pensar
que essa saudade,
das boas e grandes,
pudesse ser maldade
para fazer doer
o que eu iria querer?
senão você e a
sensação de felicidade
no fim do domingo,
do vinho, do baile,
da rua, da noite
da vida, mas estar lá
e sua.

Cáh Morandi
distraídos, poderia
ser aquele um dia
qualquer, de tantos
acasos, não fosse o
caso de estarmos
atentos
e olha, não duvido de
Deus estar certo,
só quero
chega mais perto,
mais perto

Cáh Morandi

agosto 25, 2019

venho de
uma eternidade
para me conhecer
e descobrir enfim
que a chegada 
era você
sem placa, sem aviso
quase despercebido
era este ponto de
encontro que se
transformou em
faísca de luz
a dividir os
tempos, a
iluminar o
simples, a
clarear o re-
meço

Cáh Morandi

abril 10, 2018

propositalmente
que vivi em exílio 
do amor
e por isso que
perdoo caso
outro alguém
não chegue
a tempo
mas não você,
de quem não me 
escondi, de quem 
me deixei ser
descoberta
colonizada
sitiada
e ser o lugar
do mapa onde
dão as linhas 
das tuas mãos

Cáh Morandi
não olho o
relógio porque
meu medo se
tornou saber
a velocidade 
do tempo
paro sem nem
mesmo estar 
cansada, para 
parecer que ainda
estou mais longe
de chegar no dia
que não haverá 
outro jeito
infinitamente 
te amar tem 
me colocado 
à prova de uma
covardia:
saber 
os dias
de todas as
distâncias 
que temos

Cáh Morandi
próximo de clarear
de a explosão haver
perto de se cruzar
a um fio de devastar
tamanha intensidade
desse colapso, mais
rápido que o reflexo,
deixou o movimento em
pânico, e o que era só 
um encontro deixou 
o amor perplexo
no momento ínfimo
pareceu tão cósmico 
o sentir-mos-atômicos
num big-bang íntimo
colidimos indefesos 
embora de propósito

 Cáh Morandi
o azul me torturou até
me dar coragem de
velejar
o mar 
não me aceitou
em terra firme: quebrou
e retomou parte do
desejo libertador
cuidadosa-mente
aterrado
por muito tempo
o preço pago
pela segurança
do cais foi a
liberdade julgar
o mundo pelo 
tamanho da corda 
presa na âncora
soube que 
com os pés
na areia não
se aposta o
destino de um
barco em
alto mar
estará chegando
ou partindo?

Cáh Morandi

outubro 25, 2017

desculpe, mas
depois de entrar
em conflito agora
sei que seria uma 
covardia hastear a
bandeira branca
nada contra ninguém,
estou desarmada para
batalhar por e contra mim 
e sem me esconder nas 
trincheiras com medo do 
confronto
em tempo, sei que
vencer implica estar 
em batalha, portanto,
se não há luta 
aceito a paz de 
não me conhecer
dou continência 
à vida, prossigo

Cáh Morandi

outubro 24, 2017

não desconfiava
que olhar o relógio
tantas vezes já
era ter pressa
de ti

que o mormaço
da noite já era fogo,
que os lábios secos
já eram a sede que
eu tinha de você,
que o arrepio
despertando o
meu peito já era
me servir como
tua rede

sem saber
respirando eu
estava à postos e
parecia ser normal
como todo humano:
sob-viver com os danos

mas aí
você

Cáh Morandi

outubro 03, 2017

sem qualquer cuidado
coloco essa compressa
de realidade às pressas
sobre esta ferida de
amor
querendo 
e com a impossibilidade 
de morrer, como dizer
ao coração que
ele sobreviveria?
trêmula
de muito longe vejo
a cura à passos curtos
para os sangramentos 
lentos

Cáh Morandi
que eu não
permita viver 
tateando
o amor no 
escuro
meu coração, por
favor, não se 
conforme com
as vendas
que queiram
lhe cegar
que no amor
eu não perca
tempo e não
tenha medo
o medo de perder
faz perder sempre
antes do tempo

Cáh Morandi