maio 22, 2016

quando era de manhã
a paz balançava branca
os varais das histórias
e de tão claro o céu
nenhuma mancha
me vestia a alma
nos olhos castanhos
havia o campo que
florescia perto de um
sorriso esquecido no
canto dos lábios
só não devia caminhar
sei que andando tropeço
sobre as horas e esqueço
que sempre estou indo
para me entardecer
parada, aceitando a noite
que agora bate na janela,
sei que é a saudade
nunca atrasada

Cáh Morandi

maio 10, 2016

embora queira, é tarde
demais para apagar-me já que
quem sou está posta sob a luz
de todos os pensamentos
dolorida e lenta tento
viver dentro do que
é simples, pois é
por complicar que
a vida dói
como me desprender
da alucinante existência
para, despercebida, passar?
é difícil não ser
invisível

Cáh Morandi

maio 09, 2016

amar tem sido um dia
de céu azul claro
sem vestígios de
nuvens navegando:
celebrar o amor com
os festejos de um dia
santo porque é em si
o milagre nascido de
um pedido intimo
te admirar e desprevinida
deixar tuas mãos pousarem
em minha cintura e sem
contestar seguir para
onde elas me guiam

Cáh Morandi 

maio 04, 2016

primeiro apago a luz
da cidade, para depois
caminhar nas ruas
de olhos fechados
guio o amor às pressas
pelo tato nas paredes
dos lugares que
esqueço devagar
por saber que num claro dia
a dor me cegará anunciando
o fim, é para suportar que
acostumo a ver só o que
está por trás das vendas

Cáh Morandi

maio 02, 2016

pega de surpresa, o amor
me atravessou a pele, me
rasgou a carne, devorou
meus ossos, converteu o meu
espírito e trocou as roupas
da minha alma exausta
assim: ao me beijar a testa
lavando meus os olhos, por
desacostumar com os afetos
e ser talhada pelas
antigas durezas. assim:
ao me despertar no abraço
e me emocionar por saber
segura e tocável - ainda
ouço teus planos a me convidar
para o futuro e só o que posso
é ser cuidadosa para não comprometer
a memória: te conheço
desde quando meu poema
apenas te imaginava

Cáh Morandi

maio 01, 2016

por ser mulher e forte
por ser fêmea e frágil
por ter voz e discurso
por ter motivo e luta
por ser incabível não
me ajusto para entrar
no infinito e por ser
de fibra não me dobro
para cumprir o destino
por ter por essência a
liberdade, por ter por
identidade a coragem
e por ser sensível ao que
posso transpor ao mundo
em um só segundo quando
levantar o corpo e a voz,
guardo a revolução
para o momento oportuno

Cáh Morandi

abril 30, 2016

das promessas,
não peço
que as cumpra,
mas não
as esqueça
é possível conviver
com as dúvidas
não saberia
com as certezas

Cáh Morandi
prestes a virar a página
a dobrar a esquina
a desatar os nós
próxima a abrir a 
porta certa, a
carta secreta,
a palavra perdida
sacrifico o último
esforço no segundo
que separa o agora
do que virá
por que o futuro
sempre é preciso
se nunca é possível
chegar?

Cáh Morandi

abril 26, 2016

dentre os dias, há alguns que sou
capaz de repousar sobre o fogo e não
desdobrar o gesto frio que me cobre e
me recolher sem as perguntas roubarem
o sono, e não aflita perseguir o silêncio
até parar de causar incomodo
sei que é possível me dar o direito
da paz e aceitar o invencível pedido
de trégua nas lutas não escolhidas,
conformada, sei que o perdão
é o último refúgio que me espera
e também o último confronto
mas como esquecer uma
covardia?

Cáh Morandi

abril 25, 2016

desde muito cedo fui castigada
por não aprender as doutrinas,
inclinada à beira da pia
soube que a sede vinha
antes da unção e da benção
naquele momento Deus orou
por mim e meu ouvido já estava
distraído com uma vida pássara
de asas bem abertas e sem rédeas
bravia e indomada cortava o azul
nuances de escuridão às vezes
e uma brecha entreabindo a luz
quase cega o coração sensível,
talvez tenha despertado cedo
e não sei o que fazer ao sol

Cáh Morandi
tenho as mãos sujas
de me cavar por dentro
para me tornar profunda
e ser sem consentimentos
e favores, referencia de amores,
nomes a me endereçar,
sobrenomes a me decifrar,
histórias a me definir
perto do fundo
descubro que
não há

Cáh Morandi

abril 24, 2016

nesses tempos tento diminuir o
mundo e me nego a concordar
com qualquer sonho que me
alargue, qualquer passo que
me apresse, qualquer livro
que me desperte

desconstruo as horas apoiada
sobre o relógio e me limito
a existência do poema
que me desafia, parada,
vencida pelo silêncio e
palavra que não vem

me oriento pelas minhas
fronteiras e o que em mim
costura ser forasteiro aparto
com o movimentar dos dedos,
me mapeio escrevendo as
memórias, delimitando o espaço,
contornando, retorno ao ventre:
nascer requer cansaço

Cáh Morandi

abril 12, 2016


perdoe por meu amor
não dar frutos, por não
florescer meus ramos
em delicadas carícias
por não respirar o sol
em minhas folhas de
existência e vida
não pense que não
conheci as primaveras
que algum dia não
exalei beleza e perfume
que não tive cores
me tornei profunda
envolta em mim
sob o peso estéril agora
permaneco semente,
somente e agradeco

Cáh Morandi

abril 04, 2016

é a esta pequena faixa
de luz permeando as
fibras envoltas na
na vida que me apego
e encontro a chance
de me salvar, a utopia
resguardando o inalcançável
açoitado brutalmente pela
frieza dos dias, embora haja
tímido o sol; buscando em
resistir e não aceitar e me
sentir em fracasso junto
aos que andam ao meu lado
acordada e nunca dispersa
tenho sonhado outros amanhãs,
embora saiba que só o desejo não
mova as lutas dos dias,
é do sonho que crio
a realidade possível
e prossigo


Cáh Morandi

abril 02, 2016

não fosse o tempo das
incertezas e das chagas
e o retorno íntimo não
previsto a me deixar frágil
não fosse a verdade
ter se apropriado do medo
e a palavra não ter
naufragado na garganta
não fosse os encontros
errados demorarem tanto
e o esquecimento pudesse
cobrir o que corrompemos
considero e não posso,
mas de onde te olho
o amor parece tocável

Cáh Morandi

março 29, 2016

queria gastar o resto do tempo
para que me desconhecesses,
que com as passar das horas
menos pudesses saber, e
desaprender os caminhos
que te guiei e que ficasse
estranho o que te fiz provar,
que houvesse ainda o receio
de ter liberdade comigo,
e não me admirar por nada
ou se preocupar com tudo
que me referencia, desaparecer
da tua memória até meu traço
ser comum a qualquer rosto
se a súplica antecedesse o milagre
e então o futuro me desse
a possibilidade de usar o
destino do avesso, evitaria
o começo e te resgataria
antes de todos os danos

Cáh Morandi
foi de recortar as dores
e espalha-las assim no
chão da sala que pude
me ver melhor e
encontrar surpresa
um fio de amor a me
resgatar
agarrada a ele com
unhas e restos, subi
do mais profundo o
meu corpo à luz de
uma esperança tímida
que me penetrou para
anular a esterilidade
que havia me escorado
exposta ao primeiro
novo golpe, não serei
dúbia aos que desconfiam:
sou mais forte no regresso

Cáh Morandi

março 22, 2016

meu medo era esse:
habituar com tua falta
aprender a te ter
sem que estejas, e 
me sentir a vontade
na tua ausência como
se povoasse o mesmo
espaço, e aos poucos
minha voz estranhar
teu nome a ponto
de te chamar num
pensamento muito
intimo, e aconteceu de ser
que te amo e o amor não
existe, mas me sinto absolvida
por não desfazer as distâncias



Cáh Morandi

março 16, 2016

essa emoção antiga
me brinda a lágrima
repentinamente e
um aperto saudoso
um respirar mais fundo
algo no mundo
tempo-espaço
eterno-acabado
resume a vida
uma só memória

Cáh Morandi

março 11, 2016

para ganhar é necessário
a renúncia, o mérito
a gota de suor
a integridade do caminho
a honra da palavra
a verdade do afeto
essencial ainda é
descobrir a dor
de tudo que se
perde ao vencer

Cáh Morandi

março 10, 2016

deveria chegar maduro
inteiro e livre, sem alarmar
sem prometer e endoidecer
não ser a pedra no caminho
e nem ser, também, o próprio
caminho, não nos ser. o amor.
a identidade foi perdida
a razão não mais recuperada
nos dá as dores, as dúvidas
e as nossas sobras. o amor,
o quanto de tudo isso é nada.

Cáh Morandi

março 03, 2016

tanto lugar para se encontrar
e foi acontecer de ser no
labirinto de tudo o que sinto
e você de tudo que esperava
foi bem ali: nesse ponto
incógnito, na linha invisível
do trópico de capricórnio
que meu ascendente em
fogo foi descongelar
para entrar não teve segredo
nem senha, nem mistério,
e se tiver saída, onde
perderam o mapa?
onde os que nos antecederam
no amor já chegaram?

Cáh Morandi

março 02, 2016

não é tarefa do tempo
esquecer
nem se estender para
a dor apaziguar
nem deveria me visitar
com seus ares antigos
lá, daquelas que eu vim
e nem adiantou,
distorcer o passo
alternar o compasso
pra sair do seu curso
o fato é que o tempo
sempre tem uma forma
de reaparecer, às vezes
me dizia tão moço, agora
vem deixar mais um traço
no rosto

Cáh Morandi
Já que está tudo perdido
Vou me encontrar nos
Achados de quem havia
Me esquecido
Já que o que sobra
É quase nada, há
Também quem desperdice
Não vá dizer que eu não disse:
Só estava mesmo enganada

Cáh Morandi

fevereiro 21, 2016

Paralê-las


A partir do dia 02 de março, a versão em e-book do livro "Paralê-las", da autora Cáh Morandi já estará disponível no site da Saraiva.

 Mais info: contato@cahmorandi.com.br
há coisas que são nossas
pelo fato de não as possuirmos:
o instante passa e está
eternizado para sempre

haverá memória para
os segundos despercebidos que
piscamos - toda escuridão do
que poderia ter sido viverá
para trás dos olhos

e significará o coração

Cáh Morandi
À nós só é dada uma
chance de perder,
depois de usada,
desperdiçada ou
usufruida:
nunca mais

embora os caminhos
dos encontros sejam
muitos, e inúmeros
os mapas das surpresas

perder é decisão em
linha reta, se for
voltar, nem tente

Cáh Morandi