junho 27, 2017

não cai na
tentação da luta e
nem senti o desespero
por não ter o corpo
fechado
penso que viver é
mesmo ser assim
inten-in-sanamente
alguém de muitos
acessos para quem
chega ou quando canso
e, de repente, parto
não me demarcaram
não me afronteirei
sou um lugar livre
e se pareço sensível,
frágil e acessível, é 
exatamente isto
- você também já 
experimentou
estar vivo?

Cáh Morandi

junho 07, 2017

foi um susto ao
abrir a cortina
para o que vinha,
de repente um
clarão, de supetão
meu corpo cedeu
no chão, e me
vi atordoada dos
sentidos, meus
ouvidos sentiram
a vibração da luz
dos teus passos
desde então te sigo
no escuro e me sinto
estranhamente-iluminada
é certo que o
amor é cego,
porque meu Deus:
como você brilha.


Cáh Morandi

maio 30, 2017

de uma forma já
nem secreta e não
milagrosa como pensei
que seria, já nem tão
dolorida e nem cheia
de dedos
talvez um pouco ainda 
desconfortável
foi inquestionável
te desejar, mas
me caleja a tarefa
de te desconstruir
porque tem a parte de
mim que é irrecuperável
não é não te amar - mais.
é saber como te amar - ainda.

Cáh Morandi

maio 18, 2017

os milagres
importantes
acontecem
se estamos
distraídos
tudo muda e
bruscamente,
de repente e
sem alarde,
abrupta-
mente
basta não
entender e
pensar: que
presente a 
chance de
ter o segundo
à frente


Cáh Morandi

maio 17, 2017

é pé por pé que
venho até perto
da janela e ensaio
fechar as cortinas
do nosso encontro
tanta luz me cega 
e clareando me
sinto exposta,
indefesa e imóvel 
sem poder correr
do inevitável
mesmo assim 
tu chegas
antes para
se salvar

Cáh Morandi
tens toda uma
vida e te conheço 
só pelos teus
últimos anos

é certo, mas
considerei
engano

agora sei: pois
como sobreviver 
à viver 
intenso-sabendo-te
todo

(respiro)

Cáh Morandi
calma, não
há porque ter medo,
pois de novo, nada
é novo

não dê um
pulo pra trás,
não se assuste
ao ver tantos
possíveis destinos

pois
embora os caminhos 
sejam infinitos,
por onde você anda,
você se repete

Cáh Morandi


esse excesso de
vida presente me
transborda e não 
cabe o tudo que há
há como apagar os
dias inúteis e inertes
do passado para
preenchê-los desse
meu denso-agora?
vivia
sem saber que
te esperava e 
te esperava sem
saber como se
vivia

Cáh Morandi
sem supor o peso 
dos erros, sem sequer 
contar os danos, sem 
ao menos considerar
as perdas
é tão grave - e sabemos,
e por isso parecemos
não reconhecer os
estragos, é confortável 
mergulhar no raso e não
naufragar junto de tudo
que delicadamente
destruímos
melhor passar ao lado,
olhar de cima, apressar
o passo, fingir não sentir
nenhuma lástima, acreditar
que não houve vítima

Cáh Morandi
se eu sugar a memória
tentando recompor todos 
os traços, não será você
posso me debruçar sobre
tua caligrafia para decifrar
os enigmas, não estará você
provar o sal da lágrima
na boca para reviver o gosto
do toque, não trará você
entre o abismo do mundo em 
que você existe e este em que 
te imagino, como continuar caindo
sem saber se é indo até o fundo
que te encontro?

Cáh Morandi

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