O amor chegou depois, quase no fim da esperança. O amor chegou quando não sobraram mais individualidades, quando abri meu peito ao mundo e disse: "entre". O amor chegou quando as emoções penetraram no meu intimo e desnudaram minha alma. O amor chegou quando meus olhos passaram a ver além do tangível e sentiram o precipício por trás de outras retinas. O amor chegou depois que compreendi a rotina, aceitei a falta de sono, aprendi a ter paciência com as crianças. O amor chegou quando eu comecei a me despertar para as flores e compreender que um jardim é válido se meus vizinhos podem vê-lo. O amor chegou quando deixei o riso ser agudo. O amor chegou quando aumentei o volume na minha música predileta - e dancei. O amor chegou quando esqueci de colocar o pijama para dormir e apaguei no sofá, distraída em governar meus próprios limites. O amor chegou quando eu passava um café sem pressa numa manhã longa de domingo. O amor chegou depois que não me culpei por perder horários. O amor chegou junto com a desordem, me ensinando a desaprender para aprendê-lo. O amor chegou quando tudo em mim havia sofrido partida. O amor não chega quando ainda temos razão.
Cáh Morandi