maio 30, 2013

É você



E quem diria, você! Você que andava escondido em meus limpos lençóis antigos, que conhece as pintinhas que se espalham em meu corpo, você que me reconhece de rosto amanhecido, de humor atravessado, que lê meus poemas, mas me decifra quando calo, você que descobriu minha alergia, você que sabe quem eu sou na mais funda madrugada, você que ouviu o agudo da minha gargalhada incontida, você que não se surpreende as minhas reações espontâneas, você que me dá o braço quando o salto desvia o buraco do caminho, você que escolhe sempre o livro que eu iria escolher, você que conhece as mesmas canções desconhecidas que eu, você que espera meu banho demorado, você que me desvendou bem antes da intimidade, você que sabe que eu prefiro beijo roubado do que beijo pedido, você que me dá liberdade de ser uma mulher desejada, porque assim é pra você que quero voltar. É você, agora sei que é você. Me olhou, me aceitou no que tenho de imperfeito. Aceita os escândalos, vem comigo na timidez. Deixa que eu vá por onde quiser, mas se guarda porque sabe que é minha casa. Não muda, não treme nas bases, não deixa desconfiança. É e me vê com o melhor que somos agora. E eu que esperava um amor, nem desconfiava ser amada.

Cáh Morandi

maio 29, 2013



Não tenho as coisas grandiosas deste mundo. Não me cabe, nem convém. Saiba, quero que saiba, que ao menos tudo que quero é ser de alguém. Exato, ser alguma coisa tua. Ser tua, enfim.

Cáh Morandi

maio 28, 2013

antes


Amo mesmo antes
de ser amada,
não guardo a
esperança para depois

me dei antes
de ser roubada,
melhor é precaver
do que forçar a entrega

já não espero pelos sinais
não me prendo aos avisos:
não confio no futuro,
faço logo passado


Cáh Morandi

maio 26, 2013

você que me olha 
não sabe que este sorriso
se maqueia para aparecer - 
é a máscara inventada
que minha dor encontrou
pra viver

Cáh Morandi

maio 25, 2013

que seja




ando sobre
tua solidão
e a devolvo
para quem
te deu

iremos recompor
o riso que nos
devolve a 
felicidade

dirão: impossível.
seremos impossibilidades.



Cáh Morandi

maio 24, 2013

insuspeitável



Não, eu não sou uma mulher bonita, não sou a mais simpática e bem humorada. Jurava que não prenderia teu olhar, mas ao contrário: fui presa. Surpreendeu-me na insignificância do momento, coloriu-me numa moldura de delicadezas, deu-me as mãos dentro da minha escuridão. Convidou-me para fora, beijou-me delicadamente cada cicatriz. Não me perguntou sobre as feridas: trouxe-me a cura.

Cáh Morandi

maio 23, 2013

lacuna



você vai chegar, novamente
vou me reconhecer no agora
não sei qual minha resposta
culpa do tempo que aconteceu
rápido demais e nós lentamente

então não sei, se ainda, de repente
encaixo ou folgo dentro do teu abraço
ou se o teu cansaço é também um fim
que dentro de mim soa para um recomeço

guardo uma esperança nos lábios
escondo no bolso uma despedida -
estou perdida para nosso encontro

Cáh Morandi

maio 21, 2013

amor de sempre




digo não por agora -
quero ficar presa
a esta esperança
falida e anulada

fecho-me para não ir
com as mãos estendidas,
escondo o sorriso que concede,
escorrego nos convites

não quero um novo amor,
quero amar novamente


Cáh Morandi

maio 20, 2013

até amanhã



Para nós é isto: esquecer. Encontrar um caminho para que possamos despedir a memória. O que colocaremos em nosso vazio? Substituiremos a ausência pelo que viveremos no futuro. Iremos recompor o passado com o que ainda não vivemos – amaremos ainda. Nos despedimos eternamente todos os dias. Retomamos o cumprimento com a euforia infantil. Nos trapaceamos para não nos acenar. Nós iremos partir, pelo meu, pelo teu, pelo nosso caminho? Me esqueça. Te esqueço. Inutilmente tentamos. Nos guardaremos para amanhã. Vivemos uma infância dentro do amor: fingiremos inocência. 



Cáh Morandi

Boa noite


O amor se embala para dentro da noite. Quase o perdemos de vista. Nosso brilho, nossa escuridão, enquanto acontecemos à meia luz. Anoitecemos para encontrá-lo. Madrugamos para devolvê-lo. Boa noite para nós. Estamos à beira do sonho.

Cáh Morandi

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