A chuva cai devagar, uma garoa chatinha para o último de julho e um frio que parece nos cravar as unhas na pele. Poças de água pequenas se formando na grama, as folhagens pingando, a terra molhada e suspensa. O céu tão cinza e tão gelado que nenhum pássaro poderia voar mesmo depois que toda a chuva passasse. O dia já acordou grafite e dias tão molhados me dão uma certa inspiração. Uma inspiração perto da tristeza, porque são nesses dias que chovem que o que nos faz mais falta pega nosso coração e aperta, aperta tanto até que tudo que a gente lembra vai saindo para fora e se pintando nas paredes do quarto. E então, ver o que se sente dói bem mais. Porque a dor e as coisas que se sente tem rosto, tem voz, tem cheiro, e principalmente tem uma parte da gente que nunca mais vai voltar.
(Cáh Morandi)