não são raros os dias
que pego uma memória

empoeirada para assoprar

e revistar antes de dormir

é bem aquela que tem

peso, gosto e um arrepio

que corre no corpo e deixa

o desejo e a saudade na

inquietação

uma que é cicatriz que o

amor sabe o endereço quando

se perde e precisa buscar um

riso pra me recordar que

eu sei como é estar feliz,

segura

te recoloco no lugar

de sempre, para

saber te encontrar

Cáh Morandi

é tão confortável ver você
passar num pensamento

que embaralha meu raciocínio

no meio do dia, do trabalho,

das importâncias diárias

como se não fosse ainda

mais importante lembrar

das coisas que sinto

só nessa fração de

segundo na minha

mente

vou desintegrar de

alegria, desejo e

presença

e como, meu Deus,

saber que isso pode

Ser um segundo e ao

mesmo tempo uma

eternidade inteira?

Cáh Morandi

vem assim, mansinho

balançando o cabelo na mão

e o corpo na rede, vem

do não esperado, do lado

que não se olha na rua

vem existindo em paz

vem desarmando os

medos e os planos, vem

mesmo na manhã de domingo

mesmo sem os sinais,

vem em sincronia dos signos e

os salmos, da hora com o acaso,

do inesperado e previsto,

e eu nem sabia que

sempre te esperava

Cáh Morandi

quantos amores precisam
partir para que a gente
entenda que não há

nada lá fora?

quantas vezes ainda

recolheremos os cacos

de nós mesmos para

já nos reconhecermos

inteiros?

não irei a lugar nenhum

o amor já está em casa, e atenderei

se você bater à porta.

Cáh Morandi

amo o jeito que ele sorri,

o som da sua risada, quando

o riso atrapalha as palavras

que tentam ocupar

sua garganta

ele sorri com gestos,

com a inteligência

sutil de me cantar,

me contagia com a

liberdade de

sermos nós

você parece meu

primeiro amor,

mas não quero:

seja o último

Cáh Morandi

quando errei

errei bonito

bem onde eu

queria

e não é fácil

errar de primeira

quando só se tem

uma chance e a vida

te dá o momento

perfeito

é muito azar

tanto talento

Cáh Morandi

eu acredito

em destino e acasos

e entre uma coisa e

outra, algo acontece

tudo gloriosamente belo,

até o feio, principalmente

o que não espero, e é isso

a surpresa de não saber

que eu quero

Cáh Morandi

dizer, dizer que você era a primeira

pessoa que dizer era um prazer para

mim. que o tempo não cabia nas palavras,

que as pessoas não cabiam nas histórias,

que as madrugadas não cabiam nos finais.

dizer, e ficou tanto. e não porque as palavras

em si, importantes, não foram ditas, e por serem

não foi possível contar os contos futuros dos

personagens que deixamos em rascunhos

dizer, ainda pareço perdida quando tenho

que correr para espalhar alguma boa notícia:

amanheceu sol hoje, vamos tomar café,

te vejo no final de semana, estou lendo um

bom livro, tenho um lugar novo pra viajar.

dizer, é tão mais sobre para quem.

porque por mais bonito que seja,

às vezes sentido não faz

Cáh Morandi

atravessando o dia

para encontrar

você, pensando que

entre a hora

que você sai da

minha cama e

volta para ela,

nada acontece

parece

que tudo de importante

preenchendo o tempo

é coisa que se esquece:

eu não lembro

Cáh Morandi

me pego emocionada com certa constância
de repente uma lágrima, mas acompanhada

de um riso. é como chorar de rir, mas…

um pouco mais delicado e íntimo

no tempo em que dedico em retirar

parte por parte das camadas que me

escondem da simplicidade de mim

surge essa sensação descontrolada

não tento estanca-la às pressas com

minhas conhecidas compressas de

realidade, crenças antigas e desespero

há um fluxo nessas lágrimas,

há uma melodia nesse riso,

não posso me conter

Cáh Morandi