maio 17, 2017



esse excesso de
vida presente me
transborda e não 
cabe o tudo que há
há como apagar os
dias inúteis e inertes
do passado para
preenchê-los desse
meu denso-agora?
vivia
sem saber que
te esperava e 
te esperava sem
saber como se
vivia

Cáh Morandi
sem supor o peso 
dos erros, sem sequer 
contar os danos, sem 
ao menos considerar
as perdas
é tão grave - e sabemos,
e por isso parecemos
não reconhecer os
estragos, é confortável 
mergulhar no raso e não
naufragar junto de tudo
que delicadamente
destruímos
melhor passar ao lado,
olhar de cima, apressar
o passo, fingir não sentir
nenhuma lástima, acreditar
que não houve vítima

Cáh Morandi
se eu sugar a memória
tentando recompor todos 
os traços, não será você
posso me debruçar sobre
tua caligrafia para decifrar
os enigmas, não estará você
provar o sal da lágrima
na boca para reviver o gosto
do toque, não trará você
entre o abismo do mundo em 
que você existe e este em que 
te imagino, como continuar caindo
sem saber se é indo até o fundo
que te encontro?

Cáh Morandi
para quem sempre
esquece, amar fica
bem mais fácil
por estar do outro
lado, doer fica
bem mais claro
mas não raro, é mais
doce, embora duro, ser
mais feliz quem tem
passado

Cáh Morandi


ansiosa, nas tuas margens
piso descalça no território
do quase-impossível
ao contrariar a lógica
ao enlouquecer a razão
ao desmitificar os ritos
ao assumir os riscos
e estar na esfera-espera 
a corroer em meu entorno
porque em mim
rompi todas as fronteiras:
agora, abres ou te invado
de onde venho para te amar
não há caminho de retorno

Cáh Morandi
o amor é sempre
um relógio atrasado
em muito tempo
em mim
por isso o ar de surpresa
como se não te esperasse,
porque de fato não sabia
que virias coroar os dias
antigos me percorrendo
pé por pé, ensaiando
o som de meu assoalho
aceito amar sem saber
a espera, sem premeditar,
sem questionar de que
futuro você vem me
desvendando

Cáh Morandi
desejei ter amado
antes, mas não sei
quais esquinas em
eu estava distraída
ou com tanta pressa 
a ponto de não
reconhecê-lo
foi preciso tropeçar
para me distrair, e
gritar de dor ao bater
o coração na quina
do encontro
depois, embora me doa,
para não te perder
apaguei os nomes
das ruas e te dei
meu corpo como
endereço

Cáh Morandi
It is strange how the
world got small
when I started
repeat the roads
and not even
closing my eyes
too hard
I awoke that
apocalypse
I thought
expected
but I have been imagining
that the world can again
be great at a time
when I am renewed
In a child’s hope
I remember the summer rains
and being purposely
unprotected I feel
infinitely sunny

Cáh Morandi

junho 01, 2016

é estranho como o
mundo ficou pequeno
quando comecei a
repetir as estradas
e nem mesmo
fechando os olhos
com muita força
despertei aquele
apocalipse que
pensei que me
esperava
mas tenho imaginado
que o mundo pode voltar a
ser grande em um tempo
em que eu seja renovada
numa esperança infantil
lembro das chuvas de verão
e por estar propositalmente
desprotegida me sinto
infinitamente ensolarada

Cáh Morandi

maio 31, 2016

para mim me basta
o que sei, por isso
não me prove
não reivindique
conhecer mais do
que mostro
pode ser medo
do quão profunda
me reconheço ou
do tão rasa que
você me encontre

Cáh Morandi

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