maio 09, 2016

amar tem sido um dia
de céu azul claro
sem vestígios de
nuvens navegando:
celebrar o amor com
os festejos de um dia
santo porque é em si
o milagre nascido de
um pedido intimo
te admirar e desprevinida
deixar tuas mãos pousarem
em minha cintura e sem
contestar seguir para
onde elas me guiam

Cáh Morandi 

maio 04, 2016

primeiro apago a luz
da cidade, para depois
caminhar nas ruas
de olhos fechados
guio o amor às pressas
pelo tato nas paredes
dos lugares que
esqueço devagar
por saber que num claro dia
a dor me cegará anunciando
o fim, é para suportar que
acostumo a ver só o que
está por trás das vendas

Cáh Morandi

maio 02, 2016

pega de surpresa, o amor
me atravessou a pele, me
rasgou a carne, devorou
meus ossos, converteu o meu
espírito e trocou as roupas
da minha alma exausta
assim: ao me beijar a testa
lavando meus os olhos, por
desacostumar com os afetos
e ser talhada pelas
antigas durezas. assim:
ao me despertar no abraço
e me emocionar por saber
segura e tocável - ainda
ouço teus planos a me convidar
para o futuro e só o que posso
é ser cuidadosa para não comprometer
a memória: te conheço
desde quando meu poema
apenas te imaginava

Cáh Morandi

maio 01, 2016

por ser mulher e forte
por ser fêmea e frágil
por ter voz e discurso
por ter motivo e luta
por ser incabível não
me ajusto para entrar
no infinito e por ser
de fibra não me dobro
para cumprir o destino
por ter por essência a
liberdade, por ter por
identidade a coragem
e por ser sensível ao que
posso transpor ao mundo
em um só segundo quando
levantar o corpo e a voz,
guardo a revolução
para o momento oportuno

Cáh Morandi

abril 30, 2016

das promessas,
não peço
que as cumpra,
mas não
as esqueça
é possível conviver
com as dúvidas
não saberia
com as certezas

Cáh Morandi
prestes a virar a página
a dobrar a esquina
a desatar os nós
próxima a abrir a 
porta certa, a
carta secreta,
a palavra perdida
sacrifico o último
esforço no segundo
que separa o agora
do que virá
por que o futuro
sempre é preciso
se nunca é possível
chegar?

Cáh Morandi

abril 26, 2016

dentre os dias, há alguns que sou
capaz de repousar sobre o fogo e não
desdobrar o gesto frio que me cobre e
me recolher sem as perguntas roubarem
o sono, e não aflita perseguir o silêncio
até parar de causar incomodo
sei que é possível me dar o direito
da paz e aceitar o invencível pedido
de trégua nas lutas não escolhidas,
conformada, sei que o perdão
é o último refúgio que me espera
e também o último confronto
mas como esquecer uma
covardia?

Cáh Morandi

abril 25, 2016

desde muito cedo fui castigada
por não aprender as doutrinas,
inclinada à beira da pia
soube que a sede vinha
antes da unção e da benção
naquele momento Deus orou
por mim e meu ouvido já estava
distraído com uma vida pássara
de asas bem abertas e sem rédeas
bravia e indomada cortava o azul
nuances de escuridão às vezes
e uma brecha entreabindo a luz
quase cega o coração sensível,
talvez tenha despertado cedo
e não sei o que fazer ao sol

Cáh Morandi
tenho as mãos sujas
de me cavar por dentro
para me tornar profunda
e ser sem consentimentos
e favores, referencia de amores,
nomes a me endereçar,
sobrenomes a me decifrar,
histórias a me definir
perto do fundo
descubro que
não há

Cáh Morandi

abril 24, 2016

nesses tempos tento diminuir o
mundo e me nego a concordar
com qualquer sonho que me
alargue, qualquer passo que
me apresse, qualquer livro
que me desperte

desconstruo as horas apoiada
sobre o relógio e me limito
a existência do poema
que me desafia, parada,
vencida pelo silêncio e
palavra que não vem

me oriento pelas minhas
fronteiras e o que em mim
costura ser forasteiro aparto
com o movimentar dos dedos,
me mapeio escrevendo as
memórias, delimitando o espaço,
contornando, retorno ao ventre:
nascer requer cansaço

Cáh Morandi

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