fevereiro 21, 2016

À nós só é dada uma
chance de perder,
depois de usada,
desperdiçada ou
usufruida:
nunca mais

embora os caminhos
dos encontros sejam
muitos, e inúmeros
os mapas das surpresas

perder é decisão em
linha reta, se for
voltar, nem tente

Cáh Morandi
agora tudo está
onde deveria:
onde sempre esteve
se tivesse prestado
atenção

o coração em desordem
o pensamento ansioso
o corpo em arritmia

e uma paz silenciosa
e plena, e limpa,
e clara, nessa noite
tem uma luz do dia

Cáh Morandi
depois de guardada sob
o segredo do seu corpo
e sobre a pele dos mapas
que mentem mais sobre suas
origens do que seu destino

depois, esconde-me para
ler em minha boca o poema
que corre em minhas veias

e, depois de conhecer o que sou
além das palavras, perdoe

Cáh Morandi

fevereiro 11, 2016

poderia ser decifrado
pela palavra atravessada
na garganta, significar ou
sinonimar sua existência

mas sempre é o que fica,
o silêncio que atravessou
o segundo interminável, o
espaço entre as palavras ao
se contar a história que não
aconteceu, o suspiro pesado
no pensamento profundo, a
carta amarelada pelo tempo
ainda presa ao caderno, o
prato que sobra ao se por
a mesa, a lembrança que
falta ao se por a vida

a loucura, a coragem,
a confissão, a irracionalidade
não vieram e

depois de não ter sido,
só a fé ressuscita
o amor


Cáh Morandi

fevereiro 10, 2016

foi necessário duvidar do
tempo, do mapa e do conselho -
mais me valeu a dúvida
para ir em frente e longe

não precisei das respostas:
o sábio é quem
possui as perguntas

o não-saber não me define,
me ilimita. por conta disso
chego de onde vim e conto
as minhas histórias de futuro

Cáh Morandi

fevereiro 07, 2016

sei mais das coisas que 
não tenho do que há
agora em minhas mãos
a falta - essa ausência
da qual não possuo controle-
tem intimidade comigo

tem espaços pela alma
jardins aparados, muros edificados
e se governa, como se 
meu coração fosse forasteiro
em meu próprio corpo

peregrino em mim, ao redor de
tudo que desejo

Cáh Morandi

fevereiro 05, 2016

estamos sob o tempo
e nunca é possível
permanecer aqui

ao se encontrar - 
tua identidade é outra
ao se perder -
te descobres novo

sempre estarás
em outro lugar
do que imaginas
e pensarás ter chegado

Cáh Morandi

fevereiro 03, 2016

(imagem: Noite Estrelada Sobre o Ródano, Vincent Van Gogh, 1888)
existe a noite para nos resgatar algo -
lembranças, medos, futuros -
essa escuridão traz à luz
o que a pressa do dia esconde

há aqui as buscas insaciadas, o tempo
dado de se fazer discursos, de escrever
o poema, de sofrer o amor.

e sempre há a estrela, o silêncio
da própria voz, o eco, o breu.
sempre haverá um deus
para nos questionar as
respostas.

Cáh Morandi

janeiro 07, 2016



sei que tenho uma palavra sempre escondida
- na verdade, um sentimento - me colocando
sempre uma sombra no rosto, ocasionando
o desvio de olhar, o tremor do lábio inferior.
o que oculto, me faz oculta para quem desejo,
e não sabe que é desse mistério que vivo
em imaginar.
e assim, tu não sabes, que passeias de mão dadas
comigo em todos os domingos nas ruas da
minha cidade; nem sabes, mas te leio alguns
poemas certas noites e, às vezes, uma
lágrima tua me responde; tu não sabes
dos planos em que fazes parte, e até
dessa minha arte - escrever - é tu que
inspira, e motiva, e sempre é o primeiro a ler.
queria ter a coragem de te dizer as coisas
que te escrevo em todos os poemas,
- esses poemas que são tua ausência -
mas não. quero que venhas porque
o caminho até é mim seja acaso,
ou seja desejo, mas não o (meu) pedido.
mas ainda é bela essa dor de amar
tudo que não tenho.


Cáh Morandi

dezembro 09, 2015

da palma da tua mão
que em centímetros
respira a pele de
meu peito, pairando
o fôlego sobre a palavra
ainda não nascida, e geme
basta encostar minha vida
mais perto da tua alma
para o milagre nascer, amor

Cáh Morandi

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