julho 14, 2015
nadas
voltar atrás, engolir
a palavra dita, o pedido
feito, deixar a roupa
suja, ter dito sim, ponderar
o não. Ao menos rever
as escolhas, relembrar
que havia caminhos, e pedras
nas quais fiquei. Nada
nos devolve ao momento
que nos atormenta. Nada também
nos tira de lá.
Cáh Morandi
julho 13, 2015
julho 12, 2015
A. A.
De todos os amores, dos intensos aos mais calmos, dos duradouros aos mais rápidos, dos de cama aos de planos de vida. De todos, todos os que vivi, só ficou o seu. Que me visita em tardes como essas, no litoral de uma saudade que não sabe ser preenchida. Temos todos os anos entre nós. Temos as palavras ditas e as que não tivemos coragem de dizer. Temos os erros. Eu tenho o peso da culpa, você tem a leveza das lágrimas. Tatuei você sobre e sob a pele. Não importa tudo que veio depois, tudo que construí tentando me separar de nós, fui sempre sua. Guardo minha aliança, os sonhos e um pedido de perdão que você não pode me dar.
São 7 anos em que vivo uma eternidade.
Cáh Morandi
julho 03, 2015
Não, dessa vez o amor não perdoará. Não terei a chance de pedir desculpas, de fazer o que é certo. Você não encontrará nessas palavras o meu pedido de perdão e não espalharei por aí meu arrependimento. Sou extremamente hábil em ser incompetente quando estou à frente do que quero, sou insuficiente quando deveria ser exata, perco os argumentos quando brigo e quando posso confessar tudo que penso, esqueço o que decorei para dizer ao pé do ouvido. Sou esse medo, sou essa paralisia, essa inconstância. A minha vida está sempre com um nó na garganta. Estou sempre quase, e isto é meu melhor por enquanto.
Se fosse possível, você poderia me esperar?
Cáh Morandi
junho 30, 2015
junho 21, 2015
Gosto dos teus lábios. Ainda mais se eles estão nos meus. Muito mais quando se tornam nômades em meu corpo. Gosto do sabor que há em tua carne, da medida em que ferves as emoções em teu sangue para brindar-me com o encontro. Gosto quando demoras em deixar-me, quando postergas retirar teu peso sob. Gosto quando comigo se excede, quando transbordas em minha companhia, quando divides a luz e depois entardeces ao meu lado, quando sonhas acordado para contrariar meus sentidos.
Cáh Morandi
abril 16, 2015
para os íntimos
Sinto intimidade com quem me permite o silêncio – mesmo quando as palavras poderiam ser necessárias. Quem compreende a ausência da fala inclina a cabeça em prece e também ora. Permito-me, que às vezes, o pensamento seja mais lento, que dentro de mim, se contorça, se exprima e se dilua sem alcançar minha voz. Sentir é isso: a pausa na música para o suspiro. Sentir é isso: o espaço que a terra espera para receber a próxima gota de chuva. Sentir é isso: o segundo que a pálpebra se fecha para abraçar os olhos. Sentir é isso: descobrir qual flor abriu primeiro a primavera. Não há tempo perdido na ausência, somente na falta. Ausência é ainda estar. Falta é já ter partido. Gosto de quem permite ausentar-me. Que não interrompe meu êxtase em mim. De quem não pede a escrita. Só quem nos conhece bem próximo é capaz de saber nosso silêncio e lê-lo. O silêncio é língua da intimidade.
Cáh Morandi
nunca quero saciar,
nem transbordar,
nem cansar,
nem encontrar sossego:
quero em ti, sempre encontrar
uma falta, um vazio de gestos,
uma palavra perdida, uma ausência
para que eu nunca seja
plena e completa
para que eu nunca
me encontre suficiente
nem transbordar,
nem cansar,
nem encontrar sossego:
quero em ti, sempre encontrar
uma falta, um vazio de gestos,
uma palavra perdida, uma ausência
para que eu nunca seja
plena e completa
para que eu nunca
me encontre suficiente
que eu te ame mais
do que te ame:
que haja em mim
a incontrolável
necessidade.
do que te ame:
que haja em mim
a incontrolável
necessidade.
Cáh Morandi
abril 15, 2015
para quem ouvir
Empresto meu tempo à ouvir quem tem mais estradas do que eu. Não é desgastar o ouvido quando a palavra vem carregada do peso das suas histórias. Não é dispensar o que aprendi e vivi, mas reconhecer que há belezas que só quem atravessa o tempo conhece. Meu avó soube envelhecer, herdo dele os traços do rosto e a palavra bruta – que no fundo é poesia para quem sabe entender. Suas mãos calejadas dos arados dos anos e das cidades à que foi predestinado, assinam o livro de quem viveu demais para perder tempo escrevendo (estas minhas palavras são seu prefácio). Essa rudez que levemente se estampa sobre a falta de vocabulário, se esmaece ao som da sua voz. De tudo que aprendi com ele, não esperei saber do amor. Não esperei que ele me traria o sentido de tudo que já li e escrevi. Conhecimento só tem valor se é passado adiante, assim transcrevo as suas palavras, sob o olhar de minha avó: “Espero que você tenha a nossa sorte, de ter alguém que vai passar a vida com você. Porque hoje, com mais de 50 anos de casados, a melhor coisa que você tem na velhice é poder contar as mesmas histórias juntos”. Calei. Silenciei. Nenhuma palavra pode contestar o amor, principalmente diante de alguém que o viveu.
Cáh Morandi
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