fevereiro 22, 2015

Quanto tempo já partimos do território do nós? Andamos, andamos, andamos, mas permanecemos perto de alguma lembrança mútua de um passado impassável. O amor nos fez nômades. Nenhum corpo nos completa, nenhum abraço nos completa. Não houve madrugadas como as nossas, os dias não amanhecem como eram de costume. Uma estranheza preenche as horas não preenchidas dos compromissos da rotina. Mas apesar da distância do amor, ainda sorrimos, brindamos os amigos, celebramos as boas novas. Tem sido possível viver. A vida está aparentemente completa. Aparentemente.

Cáh Morandi

fevereiro 08, 2015


Mais do que nunca fazes falta. Não só comigo, mas em mim e na vida que levo de arrasto. Dedico-me à rotina, trabalho e pouco durmo - a insônia ocupa as horas que eram nossas. Tenho tentado me distrair, sair, provar para mim e para ti que foi possível seguir sem que a dor tenha nos dilacerado. Sabes, sou boa nas coisas que invento. E tenho tentando inventar um mundo em que não existas - mas que mundo seria possível sem que lá estejas, mesmo com todas as distâncias de mim? 

Não sei por onde andas, em que pensas, que escolhas fazes. Não sei se a minha falta te dilacera como a tua faz em mim. Mas minha parte faço: confesso. Neste momento quero-te mais do que amo-te. Porque tu me é uma necessidade. 


Cáh Morandi

fevereiro 04, 2015

Eu nunca serei o que você quer. Sempre serei o que eu decidir ser e mais - nunca me defino, porque quando quiser mudo, me reinvento. Você não tem noção de quantos recomeços eu precisei para não ir até o final. E sou isso, sou do gênero da inconstância, vizinha da mudança, próxima da inovação. Desculpe se não sou o que você resume ou pretende e não me leve a mal: amo minha versão original. Não serei rascunho, nem você me passará a limpo. Se quiser, vem comigo correr perigo, amanhecer e ser sempre novo e outro, descobrir o gosto de desaprender quem dizem que somos.

Cáh Morandi

janeiro 14, 2015

Depois

O amor chegou depois, quase no fim da esperança. O amor chegou quando não sobraram mais individualidades, quando abri meu peito ao mundo e disse: "entre". O amor chegou quando as emoções penetraram no meu intimo e desnudaram minha alma. O amor chegou quando meus olhos passaram a ver além do tangível e sentiram o precipício por trás de outras retinas. O amor chegou depois que compreendi a rotina, aceitei a falta de sono, aprendi a ter paciência com as crianças. O amor chegou quando eu comecei a me despertar para as flores e compreender que um jardim é válido se meus vizinhos podem vê-lo. O amor chegou quando deixei o riso ser agudo. O amor chegou quando aumentei o volume na minha música predileta - e dancei. O amor chegou quando esqueci de colocar o pijama para dormir e apaguei no sofá, distraída em governar meus próprios limites. O amor chegou quando eu passava um café sem pressa numa manhã longa de domingo. O amor chegou depois que não me culpei por perder horários. O amor chegou junto com a desordem, me ensinando a desaprender para aprendê-lo. O amor chegou quando tudo em mim havia sofrido partida. O amor não chega quando ainda temos razão.

Cáh Morandi

janeiro 09, 2015

Eu estou com medo, eu estou morrendo de medo. Eu queria que você me conhecesse um pouco mais para saber que toda essa frieza, é na verdade, simples e puro medo. Medo de dizer que te amo. Medo de dizer que penso em você a cada minuto do dia. Medo de te ligar e me confessar. Medo de saber que você está amando outra pessoa. Medo de ter que te olhar novamente e agir naturalmente, quando estou no desespero de te beijar. Medo de encostar minha mão na tua e relembrar os teus dedos por toda minha pele. Medo de ir nos mesmo lugares que fomos juntos e reviver o som do tua risada. Medo de abrir meus emails. Medo de perder uma ligação tua. Medo de abrir os livros que lemos juntos, porque sei que ainda ouvirei tua voz sendo pausada pelos suspiros. Medo de comprar manteiga aviação porque ela tem o gosto que gosta o teu paladar. Medo das músicas que ninguém ouve, porque só nós dois sentimos. Medo de não saber o que fazer com o que eu sinto. Medo de ser agir ridiculamente por amor. Medo de ter você. Medo de te perder. Não agir, estremecida de medo, não te tira e nem te traz para mim. Medo de saber tua resposta. Medo de não ser tua resposta. Me perdoe por esta ausência, pela forma dura com quem finjo que você não existe. No fundo, é só amor. Um amor repleto de medo de existir.

Cáh Morandi

janeiro 08, 2015

Amo cada uma das nossas lembranças, nenhuma delas irei substituir por um amor do futuro. Gosto da forma que você leva a vida e tenho um extremo desgosto pelo jeito que dei de continuar caminhando. Penso em te ligar certas noites, como hoje, como agora, e confessar que a falta que você me faz me ataca insuportavelmente e que desconfio que talvez te ame, mesmo agindo como se não. Mesmo nunca te dizendo. Mesmo sendo eu a analfabeta sentimental que colocou um ponto final em um possível amor-para-a-vida-inteira. Me perdoe pela falta de jeito, pela falta de carinho, pela falta de presença, pela falta de doação, pela falta de verdade, pela falta. Pelos danos. Pelos desastres. Pela insuficiência de ser o que você merecia. Pela covardia em não te amar com a mesma coragem que deixei. Perdoe pela chegada sem aviso, pela saída prematura. Perdoe pelos beijos menos intensos, pelo sono no meio da tarde de domingo, por colocar um despertador para todo sonho. Me perdoe porque não sou fiel a poesia que escrevo. Não sou essas palavras. Mas o que restou de mim ainda é o que é seu. Fui embora em você. Preciso ir me buscar.

Cáh Morandi

dezembro 18, 2014

sob pele


dorme minha pele
sob a tua
a ternura
de madrugar
nuas
as palavras
mais secretas

Cáh Morandi

dezembro 11, 2014

cereja




cereja
você quer que
eu seja
essa proeza
no gosto
da sua boca,
mas delícia
são essas
palavras que
você me tira
do sério


Cáh Morandi

dezembro 10, 2014

Outra Vez


O amor sempre é outra vez. Sempre está na expectativa do próximo rosto. Do próximo drink. Do próximo táxi. Da próxima ida ao mercado. Do próximo embarque. Do próximo encontro com os amigos dos amigos. Da próxima estação. Da próxima cidade. Do próximo apartamento. Da próxima gentileza no trânsito. Da próxima tarde na livraria. Da próxima caminhada na praia. Do próximo encontro às escuras. Da próxima fila no banco. Do próximo lançamento nos cinemas. Do próximo show do seu cantor preferido. Do próximo domingo na feira. Do próximo atraso no dentista. Da próxima ida a lavanderia. Da próxima busca do afilhado na escola. Do próximo tropeço na rua. Da próxima troca de presente de Natal. Do próximo alguém que sentará ao nosso lado no banco da praça. Da próxima volta com o cachorro. Do próximo sábado naquele barzinho bacana. Da próxima vez que olhar a rua duas vezes antes de atravessar. Da próxima abertura de alguma porta errada. Do próximo casamento. Do próximo pane no elevador. Da próxima festa da empresa. Da próxima hora - uma hora especificamente oportuna, comum, e não esperada para que o amor então apareça, ou se revele, ou aconteça. Agora, o que há em nós de tanta dor ou cegueira que só enxergarmos o amor no futuro? Não raras vezes, o amor já foi - outra vez.

Cáh Morandi

dezembro 09, 2014

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