janeiro 09, 2015

Eu estou com medo, eu estou morrendo de medo. Eu queria que você me conhecesse um pouco mais para saber que toda essa frieza, é na verdade, simples e puro medo. Medo de dizer que te amo. Medo de dizer que penso em você a cada minuto do dia. Medo de te ligar e me confessar. Medo de saber que você está amando outra pessoa. Medo de ter que te olhar novamente e agir naturalmente, quando estou no desespero de te beijar. Medo de encostar minha mão na tua e relembrar os teus dedos por toda minha pele. Medo de ir nos mesmo lugares que fomos juntos e reviver o som do tua risada. Medo de abrir meus emails. Medo de perder uma ligação tua. Medo de abrir os livros que lemos juntos, porque sei que ainda ouvirei tua voz sendo pausada pelos suspiros. Medo de comprar manteiga aviação porque ela tem o gosto que gosta o teu paladar. Medo das músicas que ninguém ouve, porque só nós dois sentimos. Medo de não saber o que fazer com o que eu sinto. Medo de ser agir ridiculamente por amor. Medo de ter você. Medo de te perder. Não agir, estremecida de medo, não te tira e nem te traz para mim. Medo de saber tua resposta. Medo de não ser tua resposta. Me perdoe por esta ausência, pela forma dura com quem finjo que você não existe. No fundo, é só amor. Um amor repleto de medo de existir.

Cáh Morandi

janeiro 08, 2015

Amo cada uma das nossas lembranças, nenhuma delas irei substituir por um amor do futuro. Gosto da forma que você leva a vida e tenho um extremo desgosto pelo jeito que dei de continuar caminhando. Penso em te ligar certas noites, como hoje, como agora, e confessar que a falta que você me faz me ataca insuportavelmente e que desconfio que talvez te ame, mesmo agindo como se não. Mesmo nunca te dizendo. Mesmo sendo eu a analfabeta sentimental que colocou um ponto final em um possível amor-para-a-vida-inteira. Me perdoe pela falta de jeito, pela falta de carinho, pela falta de presença, pela falta de doação, pela falta de verdade, pela falta. Pelos danos. Pelos desastres. Pela insuficiência de ser o que você merecia. Pela covardia em não te amar com a mesma coragem que deixei. Perdoe pela chegada sem aviso, pela saída prematura. Perdoe pelos beijos menos intensos, pelo sono no meio da tarde de domingo, por colocar um despertador para todo sonho. Me perdoe porque não sou fiel a poesia que escrevo. Não sou essas palavras. Mas o que restou de mim ainda é o que é seu. Fui embora em você. Preciso ir me buscar.

Cáh Morandi

dezembro 18, 2014

sob pele


dorme minha pele
sob a tua
a ternura
de madrugar
nuas
as palavras
mais secretas

Cáh Morandi

dezembro 11, 2014

cereja




cereja
você quer que
eu seja
essa proeza
no gosto
da sua boca,
mas delícia
são essas
palavras que
você me tira
do sério


Cáh Morandi

dezembro 10, 2014

Outra Vez


O amor sempre é outra vez. Sempre está na expectativa do próximo rosto. Do próximo drink. Do próximo táxi. Da próxima ida ao mercado. Do próximo embarque. Do próximo encontro com os amigos dos amigos. Da próxima estação. Da próxima cidade. Do próximo apartamento. Da próxima gentileza no trânsito. Da próxima tarde na livraria. Da próxima caminhada na praia. Do próximo encontro às escuras. Da próxima fila no banco. Do próximo lançamento nos cinemas. Do próximo show do seu cantor preferido. Do próximo domingo na feira. Do próximo atraso no dentista. Da próxima ida a lavanderia. Da próxima busca do afilhado na escola. Do próximo tropeço na rua. Da próxima troca de presente de Natal. Do próximo alguém que sentará ao nosso lado no banco da praça. Da próxima volta com o cachorro. Do próximo sábado naquele barzinho bacana. Da próxima vez que olhar a rua duas vezes antes de atravessar. Da próxima abertura de alguma porta errada. Do próximo casamento. Do próximo pane no elevador. Da próxima festa da empresa. Da próxima hora - uma hora especificamente oportuna, comum, e não esperada para que o amor então apareça, ou se revele, ou aconteça. Agora, o que há em nós de tanta dor ou cegueira que só enxergarmos o amor no futuro? Não raras vezes, o amor já foi - outra vez.

Cáh Morandi

dezembro 09, 2014

Livro 'Internidades" - Cáh Morandi


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dezembro 01, 2014

prece



Quando fecho os olhos
Deus tece em mim
a prece de quem tem pressa
ou de quem passa
talvez de quem pesa
até de quem possa
de quem não tem posse
Deus  é um menino prosa
por vezes um pássaro de pose
que em meu coração posa
e sussurra: "-Peça!"
e desconfio do que posso.


Cáh Morandi

outubro 30, 2014

Perspectiva


Coleciono fracassos, alguns inesperados, outros previstos. Adormecemos com a culpa de sermos tão ingênuos e com questionamentos do tipo: "como eu não previ isso?" - torturamos a a nós mesmos com muitas perguntas, e talvez (e só dessa vez) tenhamos mais respostas do que as interrogações insistem. O precioso é isso na maturidade: admitir as culpas, mas não deixar que elas se apoderem sobre nós. Começamos a perceber o quanto todos os erros e falhas foram nos lapidando para que silenciosamente a brutalidade em nós fosse esmorecendo. 

Há algo maravilhoso em transformar desertos em fontes, porque sem perceber, podemos dar água antes que se instaure a sede - se é que me entendem. Esse vazio em nós, acumulado pela auto-punição de não estamos sendo perfeitos, é um bom presságio: um pouco de futuro nos mostra a importância do passado.


Cáh Morandi

outubro 29, 2014

Adoecer




Ser quem se é, nem sempre é leve, mas árdua tarefa. Quem nos olha, mesmo que de muito perto, nem de longe consegue enxergar além do mais raso em nós. Afinal, eu sei, você sabe: há lugares tão íntimos, tão escuros, tão profundos, que nem o "eu-mais-próprio" tem o hábito de frequentar. Comum é deixar sempre o lado mais ameno, o mais amável, o mais tolerável, o mais pacífico e seguir dando harmonia para as coisas, as pessoas, as situações. A pergunta é: até quando viveremos sendo apenas uma parte de nós ou até quando nossas dores e feridas merecerão esquecimento ao invés da cura? 

Adoecer de nós mesmos não é a melhor forma de passar pela vida.


Cáh Morandi

outubro 08, 2014

Amanhecer


Difícil despertar para o amanhã, sei do que falo. Há em nós, em certa parte da vida, uma madrugada mais duradoura, mais profunda, mais oculta que o normal. Se parecerá intransponível, acumulará parte dos sonhos de outras noites ainda quentes, trará a insônia e as perguntas infantis de quem ainda não conhece o mundo. Os lençóis sabem o contorno do corpo, os travesseiros colecionam os cabelos e se perfumam. O rosto é cada vez mais salgado de lágrimas. Não há tortura maior do que quando não saímos de nós mesmos por estarmos enclausurados no outro. Ignoramos a despedida para tornar anônima a história sobre o final. Partir é mais fácil que ficar. Quem parte leva o que precisa e no caminho se distrai com a nova paisagem. Mas quem fica, fica com tudo e se torna prisioneiro do ambiente do fracasso. Depois de um tempo – que para uns dura mais e outros menos – uma frestinha de luz tenta atravessar as cortinas e somos surpreendidos ao lembrar que vida continua em movimento. E nesta história tão universal e ao mesmo tempo tão particular, pensei: não ficarei atrás das cortinas, é hora de abrir as janelas.

Cáh Morandi

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