Antes que se perca este instante que me invade, vou te
escrever algumas palavras. Não se engane, e nem me engano, talvez isto seja
mais para mim do que para você. Não sei lidar muito bem com o amor, falta de
prática ou talvez excesso de tentativas.
Da última vez, sei que estraguei tudo, sei que coloquei seu coração em
dúvida, sei que torturei seus pensamentos por dias, que talvez tenha até roubado
intencionalmente parte do seu sono. Mas as palavras não encontram descanso em
minha garganta, e entre um beijo, e enquanto suas mãos brincavam na covinha do
final das minhas costas, eu disse. Disse que gosto muito de você para aprisioná-lo
a mim. Disse que não estou pronta. Que tenho medo. E que ainda há um passado em
mim que não desfaz as malas. Não, não é amor... é apenas um passado. Gosto do
que temos, da intimidade que construímos anos e anos. Você que me encontrou
menina e comigo se tornou homem. Nos vimos amadurecer. Nos vimos amar e
desamar. Nos vimos nas despedidas e nos encontros. E é isso que quero que
entenda: não cabe a nós sermos um casal, porque somos a melhor dupla que
conheço. E somos mais, bem mais, porque somos cúmplices. Conhecemos nossas
raízes e nossos frutos. Conheço teus fracassos. Você sabe os meus escândalos. E
por toda vida, até aqui, você sempre foi o abraço que reteve quando me
machuquei andando pelo mundo (e quero que continue sendo). Por favor, não
estrague. Por favor, não me ame. Não é com você, é comigo. Foi sempre comigo que o amor sacaneou.