julho 22, 2013

re-verso



e para o nosso 
antigo caso
quero inventar
palavras diferentes
só pra te dar
um amor-recém-nascido
que cresce
desde sempre

reinvento e te vejo
no avesso, re-verso,
ainda bonito, poema,
de-corado nos meus 
lábios



Cáh Morandi

julho 19, 2013

febre


Desisto antes de conhecer o fim. Não antecipo a dor: evito. Quero apenas o beijo e não os lábios. Quero abraço e não estar nos braços. Quero o que ninguém me rouba. Quero o que não parte. Quero o que não me arde, mas me deixa na febre.

Cáh Morandi


julho 18, 2013

cansaço


e de tanto que eu quis
cansei de querer
cansei de você
perdeu a graça
perdi o riso
e eu existo
para alguém
me fazer
feliz


Cáh Morandi

julho 17, 2013

na ausência



sou mesmo quando não sou
e estou mesmo quando não estou -
aprendi todas as contrariedades:
existo ainda mais na ausência.


Cáh Morandi

julho 16, 2013

infiltralidade




Sei que não, mas não importa. O amor deixa de ser amor se precisa ser exigido. Não quero pedir qualquer coisa, não quero dizer uma palavra que demonstre súplica, não confesso mais minhas desesperanças, esta não sou mais eu. Aprendi a guardar carinho com a infiltralidade das pedras. Na beira que as ondas batem, se você tentar me pegar, meu limo me desliza. Veja de longe, uma pedra na mão é uma arma. Você me quer nas mãos? A você mesmo se fere. Não me ame mais do que hoje, deixe que eu seja só o que fui até agora. Para ultrapassar arriscaríamos mudar o destino, e destino não muda trajetória. Por causa de você desenfeitei minha paisagem, desaprendi o gosto dos domingos. Tua falta é também minha falta, dividimos agora a ausência. Acho que você deu muitas palavras que o delírio me deixa em ciclos. Qual foi a última vez que fomos verdadeiros? 


Cáh Morandi

julho 15, 2013

meu sim



Conheço os nomes e os locais 
de todos os terremotos se ele me olha
inexistem as minhas estruturas –
queria cair no meio do seu abraço –
não sei o que há entre nós
ou é justamente o que não há

tire de mim o meu sim,
não é só você,
eu já quis bem antes.

Cáh Morandi

julho 10, 2013

amor futuro




Não preciso mais ter medo de errar no amor. Vi nos seus olhos que me aceitaria depois de todas as minhas desilusões, me esperaria chegar exausta depois de tantos desacertos. Descanso quando sua mão pressiona meu braço, beijo seus lábios enquanto você me ama com suas milhões de palavras. Me perdoe por não saber corresponder ou não poder corresponder na altura e profundidade que você merece. Agora vou errar, e você sabe, sofre e espera. Sei que é você que irá me recompor no futuro e me ensinará tudo de novo sobre todas as coisas, e quero reaprender. Ainda não estou, mas caminho para você, sei que sabes. Queria ter dito. Queria que você me chacoalhasse pelos ombros e derrubasse as minhas intenções que não são suas. Mas teu amor é paciente, teu amor não me atropela, teu amor me dá a liberdade da escolha. Teu amor me espera, teu amor se guarda para mim sem mais perguntas. Ainda te amarei. 

Cáh Morandi

julho 09, 2013

esquecerá



Com o tempo você irá me esquecer, assim como se esquece as chaves sobre a mesa, como se esquece as tristezas num dia qualquer de domingo, como se esquece de observar as flores se abrindo na sua estação. Você vai, e algum dia olhará para nós de um lugar já muito distante, mas um sentimento de ontem poderá se balançar. Esquecerá com a obrigação da tua nova vida, esquecerá porque é o que restará depois de inúmeras alternativas. Esquecerá de aquecer meus pés no inverno, esquecerá de procurar livros que ninguém tem, esquecerá as canções que escolhemos para eternizar nossas histórias, esquecerá o som da nossa voz no meio da madrugada, esquecerá de viver o imprevisto que nos assaltava, esquecerá nossos desejos mais secretos: nossa boca com gosto de mel, nossos corpos embrulhados na fita, nossa garganta arranhada das profundidades das palavras perdidas. Me esquecerá quando cruzar comigo em alguma rua, a distância envergonhará nossa nudez. Me esquecerá quando outra poesia te surpreender e te ler mais do que a mim. Me esquecerá fixando os olhos em outras costas, em traços de outras tatuagens. Me esquecerá nos domingos, em outra sala, novos sofás, parecidos carinhos. Talvez também te esqueça. Penso (e sei que pensas) em quem, um dia, nos roubará de nós. O amanhã nos atravessará com a sua covardia. Sem perceber estaremos em mapas desiguais. Haverá saudade, haverá vontade e nada poderemos fazer. Colheremos a escolha do agora, inevitável. Será isto, previsto. O caminho é sempre para frente, um trem não tem escolhas, e aqui nos colocamos de passagem. Amadureceremos na dor, não na culpa. Teremos novas mãos entre as nossas. Nossos planos conheceram seus nomes, nossos filhos não reconhecerão nossos rostos. Nosso amor não conheceu a vida, ficará sempre por nascer, prematuramente.

Cáh Morandi

julho 03, 2013

me decora


(...) Doce é ver ele decorando cada pintinha da minha pele, como se fosse uma poesia, como se fosse a mais linda poesia, como se eu fosse sua poesia. Meu corpo agora é seu livro de cabeceira. Conhece minhas páginas marcadas. Me grifa a palavra que alerta. Me dedica para sua vida, com amor.


Cáh Morandi

julho 01, 2013

para a vida


Hoje acordei perdida para meus olhos. Vejo além do que me parece, certo ou errado, esquece, hoje não me convém acertar. Quero o vento e o beijo no rosto e um gosto na boca perto do romã, descansar um cobertor nas minhas costas e um abraço repleto de uma remota vontade de amar. Quero o livro, comer a palavra, me alargar na poesia. E quero a voz, a voz no ouvido, a voz que tem um gemido para me torturar. Quero os pés descansados na areia, ou dentro da meia, ou jogados no ar. Quero a varanda ao invés da casa, quero a paisagem, a folhagem, a aragem, a bobagem de jurar um amor. Quero deixar meus olhos fechados, meus lábios guardados, meu coração chaveado. E quero que você venha, quero que você chegue, quero que você more, quero que demore o tempo de uma vida ao meu lado.

Cáh Morandi

Curta