junho 19, 2013

líquida

escorro só para
não perder a gota,
recolho a saliva
para inundar o gosto -
líquida, provoco a sede
evaporando para voltar
na próxima chuva
para ti,
acalmo as ondas -
não quero ser
um rio, que passa:
quero ser foz,
que verte

Cáh Morandi

junho 18, 2013

bem agora



calma, me acalma
nos próximos segundos

você chegou repleto
de palavras guardadas
sufocadas em você
eu só não esperava, 
bem agora, esta
novidade:

um convite, no meio
da minha liberdade,
pra me prender a você

o que eu esperava
na hora errada
de acontecer


Cáh Morandi

junho 14, 2013

dureza


Não sei bem certo quando amadureci demais para o amor. Me separei do poema, como águas de cores diferentes. Nos repartimos para nos multiplicar. Deixei o carinho nas palavras, levei a dureza para os dias. Uso a razão para não mais me ferir. Endureci não por falta de amar, mas por excesso. Nunca medi o tamanho do beijo, antes da paixão eu já cedia na entrega. Não mais, por agora. Uma serenidade me convidou ao descanso. Somente espero sem subornar a expectativa. Nem sempre a espera tem recompensa. Ela apenas favorece o tempo. E o tempo, traz cura. Hoje quero apenas companhia, uma mão pousada sobre a minha até o próximo domingo. Uma vida sem crer no amor é tão cruel como a morte. Por enquanto, adormeço.

Cáh Morandi

para não dizer


não decepciono no amor
falho apenas na correspondência:
imóvel, não sou de grandes gestos
falo pouco, sou tímida na voz
desvio o olhar para negar
tenho medo de confessar
teu nome, secreto -
para não dizer,
te escrevo poemas

Cáh Morandi

junho 12, 2013

aqui em mim


demorei para reparar
que você havia chegado
em mim

te descubro entre
as coisas boas e melhores
morando em meu peito

não do lado esquerdo,
mas estranhamente direito:
precisei de um novo coração
para te receber


Cáh Morandi

junho 11, 2013

descuido


Perdi antes mesmo de ser derrotada pelo amor. Ao contrário de tudo que espero, inverso ao meu desejo mais secreto, você está. Não me oferece futuro, não aliança nossas mãos para um sempre. Me deixa para depois, fico estagnada na dúvida, sem avanço ou recuo. Cedo para ele ficar um pouco mais. Guardo a expectativa para correspondê-lo no agora. Não precipito para continuar no beijo. Enquanto posso, enlaço meus dedos nos dele, troco nossas digitais para a eternidade. Deixo ele ficar no meu corpo pelo tempo que queira e não pelo que desejo, tardo no suor. Não digo que o amo, embora. Não mostro que o quero, porém. Engano-me no amor para não sofrer a despedida.

Cáh Morandi

junho 10, 2013

isto


isto que paira
entre o nosso olhar,
isto que morde
os lábios da nossa boca,
isto que arrepia
nossos pêlos e peles

isto que disfarçamos,
que negamos com um sorriso,
que escapamos com o alívio
de não nos entregar

Cáh Morandi

junho 07, 2013

ainda tua


não vou me culpar
porque nosso tempo acabou
e o meu amor se perdeu
na distancia do caminho
antes, vou ser grata
pelos nossos dias e 
o quanto fomos bons
um para o outro

não me odeie
ou me esqueça

se você lembrar
dos nossos beijos
ali, ainda, levemente,
serei tua

Cáh Morandi

junho 06, 2013

venha ficar



vi você nascer da minha
tristeza e virar beleza
enfeitando meus dias
que eram tão cinzas

vi sua delicadeza
espantando meus medos
me perdi nos seus dedos
tomando conta de mim

vi a felicidade se abrindo
como um dia de domingo
preguiçoso e bem-vindo
demorado em ficar

Cáh Morandi

junho 05, 2013

sobre palavras




Tenho medo de escrever certas palavras. Posso me confessar sem perceber, posso ferir alguém sem a intenção de fazê-lo. Desmorono algumas frases, maquio as expressões. Alongo um pouco mais a vírgula. Quebro linhas, reinicio um parágrafo. Minha graça é a existência da poesia. Minha agonia é o que a precede. Meu desespero é quando ela sobra, dentro de mim.

Cáh Morandi

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