junho 04, 2013

comigo




bonito é teu gesto
de me oferecer abraço
na minha desistência -
quando desacredito
da gentileza do amor
tu me fazes esta surpresa

quero retomar o ar,
respira este novo tempo, comigo -
nunca mais te perderei
de mim

Cáh Morandi

junho 03, 2013

esqueço-me



amar na mesma medida
em que me esqueço

não sobra tempo para a dor
não crio memórias para tortura
nem me anseio para amanhã,
desacredito para não me iludir

estou profunda em mim,
não toque na minha esperança

Cáh Morandi

junho 02, 2013

Nosso (improvável) amor



Nosso amor é uma expectativa constante, sobrevivemos do que pode ser.
Pode ser que amanhã você me ame. Pode ser que não.
O improvável alimenta nossos afetos. As possibilidades nos unificam.
Precisei fechar os olhos para enxergar o tamanho da sua importância na minha vida e quando despertei, amanheci em você, já não soube provar os dias de solidão. Estou para ti, porque só assim sei estar. 
Não conheço mais caminhos, não procuro novos mapas, faço minha história no permanecimento. Você é minha casa, meu terreno, minha pátria, meu lugar tranquilo, meu descanso, você é a bandeira sobre qual me estendo. Nos confundimos nos nomes e sobrenomes, nas datas e nascimentos. Não sei se eu termino, ou se você começa, ou então se é o avesso. Somos laço. Nos perdemos em um abraço, já não sobra dúvidas sobre ocuparmos o mesmo lugar no espaço. 
Hoje vamos inaugurar nosso amanhã.

junho 01, 2013

somos



como eu poderia ainda pedir?
já me entreguei, já me rendi

de dentro de você respondo com tua voz
que já sou parte de ti

não vou porque já estou
não sou porque já és


Cáh Morandi

maio 30, 2013

É você



E quem diria, você! Você que andava escondido em meus limpos lençóis antigos, que conhece as pintinhas que se espalham em meu corpo, você que me reconhece de rosto amanhecido, de humor atravessado, que lê meus poemas, mas me decifra quando calo, você que descobriu minha alergia, você que sabe quem eu sou na mais funda madrugada, você que ouviu o agudo da minha gargalhada incontida, você que não se surpreende as minhas reações espontâneas, você que me dá o braço quando o salto desvia o buraco do caminho, você que escolhe sempre o livro que eu iria escolher, você que conhece as mesmas canções desconhecidas que eu, você que espera meu banho demorado, você que me desvendou bem antes da intimidade, você que sabe que eu prefiro beijo roubado do que beijo pedido, você que me dá liberdade de ser uma mulher desejada, porque assim é pra você que quero voltar. É você, agora sei que é você. Me olhou, me aceitou no que tenho de imperfeito. Aceita os escândalos, vem comigo na timidez. Deixa que eu vá por onde quiser, mas se guarda porque sabe que é minha casa. Não muda, não treme nas bases, não deixa desconfiança. É e me vê com o melhor que somos agora. E eu que esperava um amor, nem desconfiava ser amada.

Cáh Morandi

maio 29, 2013



Não tenho as coisas grandiosas deste mundo. Não me cabe, nem convém. Saiba, quero que saiba, que ao menos tudo que quero é ser de alguém. Exato, ser alguma coisa tua. Ser tua, enfim.

Cáh Morandi

maio 28, 2013

antes


Amo mesmo antes
de ser amada,
não guardo a
esperança para depois

me dei antes
de ser roubada,
melhor é precaver
do que forçar a entrega

já não espero pelos sinais
não me prendo aos avisos:
não confio no futuro,
faço logo passado


Cáh Morandi

maio 26, 2013

você que me olha 
não sabe que este sorriso
se maqueia para aparecer - 
é a máscara inventada
que minha dor encontrou
pra viver

Cáh Morandi

maio 25, 2013

que seja




ando sobre
tua solidão
e a devolvo
para quem
te deu

iremos recompor
o riso que nos
devolve a 
felicidade

dirão: impossível.
seremos impossibilidades.



Cáh Morandi

maio 24, 2013

insuspeitável



Não, eu não sou uma mulher bonita, não sou a mais simpática e bem humorada. Jurava que não prenderia teu olhar, mas ao contrário: fui presa. Surpreendeu-me na insignificância do momento, coloriu-me numa moldura de delicadezas, deu-me as mãos dentro da minha escuridão. Convidou-me para fora, beijou-me delicadamente cada cicatriz. Não me perguntou sobre as feridas: trouxe-me a cura.

Cáh Morandi

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