abril 17, 2013

Confesso que...




Toda minha vida sinto que esperava por alguma coisa. Uma felicidade, um amor, uma grande realização. Você? Você não. Eu não tinha esta ousadia, esta perspicácia. Estou aprendendo a desaprender desde que você chegou. Desaprendendo a ser forte, para cair mais frágil em teu abraço. Desaprendendo a ser independente, para sofrer teu cuidado. Desaprendendo a ser fria, para efervescer no calor dos teus lábios. Desaprendendo a me medir por baixo, porque o seu olhar reflete a mulher que esqueci. Tenho amado o tempo em que você está comigo, me ajudando a reconstruir a esperança no amor. Descanso no som da tua voz. Tua mão em minhas costas é uma rede debaixo da sombra. Gosto de pensar em você quando troco o timbre pelo pensamento. Se não te amo, queria amar. Estou desejando te amar. Oro para que Deus grave as tuas digitais no meu coração. Aprendo contigo a gostar de você. Aprendo com tua paciência, a pressa de te corresponder. Juro que preciso de você. Te dou o direito de desconfiar do meu amor, mas nunca da minha palavra.

Cáh Morandi

abril 16, 2013

Não responda, amor.




Meu perfeccionismo precisou falhar. Tive que reaprender a pousar o olhar mais leve sobre as expectativas. Esperava sempre por algo grandioso, fulminante e arrebatador, mas este mundo se limita ao mediano. As boas palavras só existem na garganta. A curva oculta o segredo da estrada. Melhor é sempre não esperar. O amor não se esquece, somente peca na incompetência de se confessar. Desisto. Meu beijo em teu rosto é me aceno. Teu gosto em meus lábios é o merecimento. Começo onde o cansaço te derrota. Meu suor é tua sede. Não entenda, eu também já me perdi nas alternativas. Talvez eu tenha perdido muito tempo construindo boas perguntas que – para não mais me doer – não quero respostas.

Cáh Morandi

abril 10, 2013





Te conheci antes de mim. Antes eu era apenas qualquer pessoa, agora sou um nome que existe na tua boca. Nossa história começa a partir de nós, até ali éramos apenas rastros. Não sei se eu estava na tua espera ou você que estava na minha procura. Talvez sempre vivemos um para o outro.

Meu ontem não quero retomar. Quero recomeçar fazendo futuro com você. Não porque somos perfeitos, mas porque vimos cura um no outro para nossas imperfeições. Você me abraça com meus arranhões, eu te beijo com um acumulo das palavras que foram perdidas.

Ainda não é amor, mas se mais um dia amanhecer e conseguirmos permanecer juntos, quem sabe aconteça. Me recuso a criar expectativas, me prendo a fé. Tente ficar por você e eu ficarei por mim. Basta um raio de sol e isto já é a certeza que não precisamos.

Você tem o olhar que me paralisa, eu tenho as palavras que te desconfortam. Dou sempre muitas voltas para me confessar.

Quero me apaixonar por você.



Cáh Morandi

abril 05, 2013

para ele



enquanto ele não me chama
eu não vou responder
para ninguém – 
quero ser para ele,
existir para ele,
ainda que signifique
me negar.

Cáh Morandi

abril 03, 2013

indescrevo





ainda não sei
te responder
do que mais
vou sentir
saudades

talvez
do (nosso)
futuro


Cáh Morandi

abril 02, 2013

(in)domada



Você dói em mim. Você me fere. Sinto você arder. Não quero que pare. Também não há cura sem você. Melhor sangrar do que viver sem as marcas de uma grande vida. Pareço calma nesta pele claríssima, mas também escondo as garras por trás de um olhar sereno. Me mostro rasa, mas sei que sou profunda. Sou forte para resistir a tua força. Sou leve para pesar sobre teu corpo. Escolho boas palavras, te desarmo com meus dedos. Os arranhões são também beijos. Abraços são armadilhas. Minha mão em tuas costas desenha meu pedido. Tuas mãos em minha cintura pontuam meu destino. Se te guio com o que pressinto, você altera o futuro. Você tira de mim o grito, eu dou para você também o riso. Entro em ebulição se você se aproxima. Tive que desaprender as manhas da minha fera. Busquei a liberdade para me dar para você.


Cáh Morandi

abril 01, 2013

repara


acho engraçada a forma que você 
fala das coisas e dos seus planos
como, despercebido, me coloca
em seus sonhos, nesse total
diz-não-diz que me ama
que escapa nas entrelinhas
dos seus gestos e seu olhar

é lindo como você me nega
e me observa sem perceber;
é lindo como você se entrega
e não repara eu me render.



Cáh Morandi

março 28, 2013

"Quero as janelas abrir para que o sol possa vir iluminar nosso amor..."

(Título: Janelas abertas, Tom Jobim e Vinícius de Moraes)



O amor seria somente mais uma palavra. Uma palavra como outra qualquer: cadeira, livros, horizonte ou paralelepípedo. Uma palavra perdida em um dicionário. Uma palavra imprecisa em uma canção. Uma palavra escrita numa placa no deserto. O amor poderia ser o deserto ou a canção, porque às vezes, nos dá uma espécie de sede, em outras, um carinho ao pé do ouvido.

Quem sabe o amor passasse despercebido, em silêncio, tão em calmaria que nem distraísse minha atenção das outras coisas bobas do mundo. Quem sabe o amor chegaria, como chegam correspondências de promoções, que a gente amassa e joga fora. Quem sabe o amor viesse como uma rosa entre as outras rosas em buquê, e olhando de cima, é tudo tão igual. Quem sabe fosse uma rua desconhecida, um creme para as mãos, um jeito de sorrir ou olhar, uma mania, um prato árabe, uma pizza, um peixe que vive só no Mar Egeu, uma marca de xampu ou de relógio, um sabor de suco, uma fruta. Embora para tudo, seja todo o sentido.

Poderia sim ser quase nada, se não tivesse sido tudo. Poderia não ter significância ou significado, senão fosse você. Senão fosse seu riso me chamando para dançar no meio do mundo, senão fosse seu nome se espalhar por todos os cantos dos meus pensamentos e os poros da minha pele, senão fosse o seu olhar na primeira vez que te vi, senão fosse seu ar de segurança, senão fosse sua simplicidade em falar. Se por um momento só, você não tivesse sido tão profundo. Se por um momento só, não tivesse sido você, teria sido tudo inútil, teria sido tão em vão.

O amor vem depois de você, e as palavras vem depois do amor. Tão clichê, tão bobo, quando a gente quer dizer que está apaixonada e sente tão amada a ponto de esquecer o resto do mundo. Tão tola nossa forma mais planejada para não ser amarrada pela paixão. Não vale nada toda razão quando o coração desperta.

O amor seria sim como qualquer palavra, se não fosse sua chegada.

Cáh Morandi

março 27, 2013

não me devolva



eu sei que é loucura
desejar ser só sua
até que a vida me dê seu ar
quero ser seu enredo,
teu enfeite, teu brinquedo
tão sério e tão risonho
que a realidade será um
sonho incapaz de nos chamar

que seja um abismo
caio no precipício
se você estiver lá

pegue meu destino
me leve em teu caminho -
não me devolva
nunca mais

Cáh Morandi

março 26, 2013

Chantagem




Primeiro você me aparece e me mostra as coisas das quais, até ontem, eu não tinha medo. Eu acredito nelas e, de repente, elas se tornam muito mais do que uma simples crença. Me encoraja ao amor, retrocedo nos dedos. Vem, vende sonhos para nós, mas eu compro só para mim. Vejo um futuro, te chamo por cima do muro da saudade, estico os pés na esperança, me apoio na confiança, espero uma resposta do amor. Será que é só medo a nossa distância? Eu fico aqui com a pergunta e também com a resposta e eu as ofereço para você, como quem oferece um pedaço de vida. Você as toca, mas não as abraça. Você as vê, mas não as retribui. Você não existe. Primeiro eu desejei o amor, depois uma possibilidade, agora não desejo quase nada. Eu continuo, então, preso a esses sonhos comprados, evaporando meu amor, desistindo de uma vida para nós. Acho que é por esse poro que a esperança se esvai.


Curta