abril 05, 2013

para ele



enquanto ele não me chama
eu não vou responder
para ninguém – 
quero ser para ele,
existir para ele,
ainda que signifique
me negar.

Cáh Morandi

abril 03, 2013

indescrevo





ainda não sei
te responder
do que mais
vou sentir
saudades

talvez
do (nosso)
futuro


Cáh Morandi

abril 02, 2013

(in)domada



Você dói em mim. Você me fere. Sinto você arder. Não quero que pare. Também não há cura sem você. Melhor sangrar do que viver sem as marcas de uma grande vida. Pareço calma nesta pele claríssima, mas também escondo as garras por trás de um olhar sereno. Me mostro rasa, mas sei que sou profunda. Sou forte para resistir a tua força. Sou leve para pesar sobre teu corpo. Escolho boas palavras, te desarmo com meus dedos. Os arranhões são também beijos. Abraços são armadilhas. Minha mão em tuas costas desenha meu pedido. Tuas mãos em minha cintura pontuam meu destino. Se te guio com o que pressinto, você altera o futuro. Você tira de mim o grito, eu dou para você também o riso. Entro em ebulição se você se aproxima. Tive que desaprender as manhas da minha fera. Busquei a liberdade para me dar para você.


Cáh Morandi

abril 01, 2013

repara


acho engraçada a forma que você 
fala das coisas e dos seus planos
como, despercebido, me coloca
em seus sonhos, nesse total
diz-não-diz que me ama
que escapa nas entrelinhas
dos seus gestos e seu olhar

é lindo como você me nega
e me observa sem perceber;
é lindo como você se entrega
e não repara eu me render.



Cáh Morandi

março 28, 2013

"Quero as janelas abrir para que o sol possa vir iluminar nosso amor..."

(Título: Janelas abertas, Tom Jobim e Vinícius de Moraes)



O amor seria somente mais uma palavra. Uma palavra como outra qualquer: cadeira, livros, horizonte ou paralelepípedo. Uma palavra perdida em um dicionário. Uma palavra imprecisa em uma canção. Uma palavra escrita numa placa no deserto. O amor poderia ser o deserto ou a canção, porque às vezes, nos dá uma espécie de sede, em outras, um carinho ao pé do ouvido.

Quem sabe o amor passasse despercebido, em silêncio, tão em calmaria que nem distraísse minha atenção das outras coisas bobas do mundo. Quem sabe o amor chegaria, como chegam correspondências de promoções, que a gente amassa e joga fora. Quem sabe o amor viesse como uma rosa entre as outras rosas em buquê, e olhando de cima, é tudo tão igual. Quem sabe fosse uma rua desconhecida, um creme para as mãos, um jeito de sorrir ou olhar, uma mania, um prato árabe, uma pizza, um peixe que vive só no Mar Egeu, uma marca de xampu ou de relógio, um sabor de suco, uma fruta. Embora para tudo, seja todo o sentido.

Poderia sim ser quase nada, se não tivesse sido tudo. Poderia não ter significância ou significado, senão fosse você. Senão fosse seu riso me chamando para dançar no meio do mundo, senão fosse seu nome se espalhar por todos os cantos dos meus pensamentos e os poros da minha pele, senão fosse o seu olhar na primeira vez que te vi, senão fosse seu ar de segurança, senão fosse sua simplicidade em falar. Se por um momento só, você não tivesse sido tão profundo. Se por um momento só, não tivesse sido você, teria sido tudo inútil, teria sido tão em vão.

O amor vem depois de você, e as palavras vem depois do amor. Tão clichê, tão bobo, quando a gente quer dizer que está apaixonada e sente tão amada a ponto de esquecer o resto do mundo. Tão tola nossa forma mais planejada para não ser amarrada pela paixão. Não vale nada toda razão quando o coração desperta.

O amor seria sim como qualquer palavra, se não fosse sua chegada.

Cáh Morandi

março 27, 2013

não me devolva



eu sei que é loucura
desejar ser só sua
até que a vida me dê seu ar
quero ser seu enredo,
teu enfeite, teu brinquedo
tão sério e tão risonho
que a realidade será um
sonho incapaz de nos chamar

que seja um abismo
caio no precipício
se você estiver lá

pegue meu destino
me leve em teu caminho -
não me devolva
nunca mais

Cáh Morandi

março 26, 2013

Chantagem




Primeiro você me aparece e me mostra as coisas das quais, até ontem, eu não tinha medo. Eu acredito nelas e, de repente, elas se tornam muito mais do que uma simples crença. Me encoraja ao amor, retrocedo nos dedos. Vem, vende sonhos para nós, mas eu compro só para mim. Vejo um futuro, te chamo por cima do muro da saudade, estico os pés na esperança, me apoio na confiança, espero uma resposta do amor. Será que é só medo a nossa distância? Eu fico aqui com a pergunta e também com a resposta e eu as ofereço para você, como quem oferece um pedaço de vida. Você as toca, mas não as abraça. Você as vê, mas não as retribui. Você não existe. Primeiro eu desejei o amor, depois uma possibilidade, agora não desejo quase nada. Eu continuo, então, preso a esses sonhos comprados, evaporando meu amor, desistindo de uma vida para nós. Acho que é por esse poro que a esperança se esvai.


março 25, 2013

sobre você


madrugada de um sábado qualquer
e seu sorriso me brindou
amanheci num domingo diferente
desses que a gente sonha
e acontece de repente

uma sede de saber tudo que te pertence
devolver tua fascinação das minhas palavras
a intimidade era nosso primeiro olhar
precisamos ir muito mais fundo
até você se achar em mim
até eu me permitir em você

uma semana para atravessar -
estou conhecendo o desespero



Cáh Morandi

março 22, 2013

sobrenome


ah, como eu me sinto plena
quando ouço você me chamar
pelo meu sobrenome –
que por acaso ainda não é o seu –
quando vou poder me enfeitar
com a dureza e leveza da tua história?
não se engane, isto não é um pedido
é um jeito de dizer que vou contigo
até você querer meu sim.

incompleto-me. não é só teu sobrenome,
é minha vida que continua e se completa na tua.

Cáh Morandi

março 21, 2013

entre seus braços


o seu abraço começa se abrindo
sobre meu peito e se fecha como um laço
a se enfeitar em minhas costas
vejo como ele gosta de me embrulhar
como seu presente, me guardar
para um futuro, de repente

se eu pudesse escolher, escolheria
me confessar frágil e não ser -
não me deixe sair daqui, dos 
teus braços -
minha estrada é permanecer.



Cáh Morandi

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