Tenho mais silêncios do que segredos. Sou apenas uma resposta atrasada de alguém, a canção inapropriada da madrugada, o livro mais demorado de alguma estante. Sobre mim apenas o distante, o toque que não alcança, a muralha que divide. Ontem eu fui uma menina que fui roubada de sonhos, uma mulher que amadureceu das precipitações sobrepostas. Nem sempre a vida é justa, nem sempre nos devolve as respostas e passamos sendo apenas interrogações. Não tenho conversas interessantes, antes sou um poço de irrelevantes poemas. Tracei um caminho, mas caminhei por um desvio, sempre a própria beira. Não ofereço nada, do pó que vim, morrerei voando em poeira. O que deixarei saber sobre mim é que de alguma forma tenha amado a vida ou alguém, sem detalhes além. Uma mulher não diz quem escolheu para amar. Ela vive um amor a dois, a sós.
março 06, 2013
março 05, 2013
para nós
morrer com as palavras
na boca –
nenhum beijo
para decifrá-las
recolho letra por letra
nunca nos diremos nada –
seremos este amor
jurado no silêncio
que construímos
ao menos temos um poema
para relermos-nos, saber
que estivemos em algum lugar
um para o outro
Cáh Morandi
março 04, 2013
sobre seu futuro
Você guardará meu nome atrás de algum sentimento mascarado em seu coração, abrirá o bilhete que te deixei para passar na feira só para encontrar meus dedos, respirará mais fundo a maresia, talvez hesitaria se meu cheiro não estivesse lá, mastigará mais devagar a fruta e citricamente serei seu nó na garganta, lerá poemas nas livrarias e se lembrará de que palavras eram lugares para nós, ouvirá uma música desconhecida com a insatisfação de não termos compartilhado antes, acordará no domingo e suplicará pela segunda para os compromissos me anularem da razão, caminhará mais atento as vozes da rua e se inclinará se a voz for parecida com a minha, pedirá a pizza com meu sabor predileto para sobrar mais lembranças na geladeira, a solidão chegará antes das ligações e dos emails. Encontrará outra pessoa, irá se enfeitar, irá tentar me mostrar que está tentando ser feliz de novo, trocará amor por carência. Os anos marcarão o seu rosto, os filhos acordarão o silêncio da casa, a mão do seu amor te convidará para um dia de feriado, vestirá o sorriso, amará o que tem, desejará ter feito outras escolhas no passado. Duvidará do tempo, desconfiará dos dias de muito sol porque sempre terá uma lágrima por dentro.
Cáh Morandi
notícias daqui
queria
te contar que a vida aqui continua
mais
triste, mais recolhida e saudosa
não
pensei que os dias seriam tão longos
nem
que o coração deixasse ir tão fundo
continuo
me perdendo nas ruas
decido
sempre pela fila mais devagar
ainda
não comprei o enfeite da porta
meus
sanduíches ainda são de pão sírio
Florianópolis
ainda é linda de madrugada
mando
notícias do lado de cá
espero
que do lado de lá
só
venha sorrisos
para
mim
Não demore,
a vida tem me cobrado urgências.
a vida tem me cobrado urgências.
Cáh Morandi
março 01, 2013
fevereiro 28, 2013
nós, depois
o que será que viria
depois que nos desencontramos
nas palavras e no olhar?
eu poderia escolher
outra palavra que
anula-se teu aceno
e não fiz
que o futuro seja segredo
guardado no tempo -
nem nós sabíamos
o que faríamos de nós
Cáh Morandi
fevereiro 27, 2013
Indecisa
se o meu coração
se
deixar enganar
por
você, outra vez
vou
ter que encontrar,
redescobrir,
nova
forma
de me curar
sair
de ti
me
desenlaçar do teu abraço
moreno,
sereno no amar
forte
que toma meu medo
mas
me deixa insegura
se
você me largar
não
sei se eu mereço
amar
ou sofrer por você
desconheço
o que vou fazer
se
quero, não quero
te
pertencer
Cáh
Morandi
im-pressão
me
deixa ir
não
prenda meu amanhã
na
tua incerteza
já
que tua idéia muda
a
cada segundo
se
me ama ou não
ao
menos me poupe
de
dias longos
dois a dois na solidão
dois a dois na solidão
deixa
nossos dedos
se
descruzarem
nosso
olhar se desenfeitar
ao menos quero
ao menos quero
te guardar
no
instante da
primeira
vez
Cáh Morandi
fevereiro 25, 2013
Previsível
Sempre sei quando estou prestes a fazer algo do qual vou me arrepender, e continuo. Depois irei me torturar, fazer mil questionamentos, levantar todos os "por quês?", me culpar e falar para mim mesma: "como você foi boba!". Me conheço, a ação feita ocupará o pensamento presente. Me roubará a palavra da boca, me inundará de escritas. Não desejo para ninguém e nem articulo uma mudança para o meu jeito. Descobri que o arrependimento é justamente para estes casos: viver demais, pensar de menos.
Cáh Morandi
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