outubro 22, 2008

f r a g m e n t o s

- ela sussurra seu nome -
e você lembra
que nossos corpos
falavam em silêncio?

outubro 18, 2008

Ilumina-me



o sol reflete direto no seu sorriso
e isso não é certo, isso não é bom
o reflexo bate em mim
fico assim, quase cega
de te procurar, ver você radiar
e você quase vira uma estrela
em plena manhã de sexta-feira
no meu quarto escuro
risos e absurdos
você que brilha,
você que me faz brilhar

isso não é certo,
você sair pelas ruas
andando sem pressa alguma
enquanto fico na loucura
de tanta gente te fitar
você que é tão bonito de olhar
essa multidão que te cerca
mas você é a coisa mais certa
aonde quero chegar
você que apaixona,
você que me faz apaixonar



(Cáh Morandi)

outubro 14, 2008

O beijo e a chave


- posso te beijar?
- mas agora não tenho tempo para isso.
- um beijo?
- não, para o que virá depois...
- mas não se pode prever o que virá!
- o beijo é uma chave que pode nos abrir para o amor.


(Cáh Morandi)

outubro 11, 2008

É perigoso


É perigoso brincar com fogo, fazer fogueira,
Me acordar no meio da madrugada
Se quiser dormir ela inteira
Eu sei das manhas tuas
Deixo as costas nuas
e um beijo na nuca me acordar
Você corre um grande risco
Você nem imagina o perigo
Que é ficar preso no meu olhar



(Cáh Morandi)

Dangerous


O que faz com que as pessoas vejam em mim a delicadeza? Será esse meu rosto claríssimo em contraste com o negro dos cabelos cacheados? A boca desenhada em “forma de coração” pintada como uma tela de um vermelho ardente? Os olhos pequenos, levemente puxados, abraçados pelos longos cílios? As mãos pequenas cuidadas porque quem tem um jardim de palavras? E como pode ser que seja isso que eu transpareça? E essa coisa tão selvagem no meu jeito de olhar ? E esse fogo, coisa que são só dos dragões, que me arde a garganta? E essas garras afiadas, cuidadas, como se não pudessem arranhar, cravar, fazer doer? E essa fera que me revira por dentro, que parece que sangra, que ronda, que me morde, que acorda quando quero dormir? Como pode ninguém perceber esse perigo que sou, esse bicho feminino que anda por aí a solta, revolta, em vez de pêlo, encoberta de pele e malha fina.



(Cáh Morandi)

outubro 07, 2008

Para dias sem esperança



Eu que já não tinha coração
Não tinha olhos de atenção
Nem mãos procurando par
Não tinha nada além da madrugada
Além da certeza exata:
Nunca mais amar.

Quem diria, quem apostaria
No que custo acreditar?
Eu que já não tinha vida
Não tinha casa e nem lar
Eu que caminhava perdida
Cheia de ferida antiga
Que esperança tinha
De sentir o que agora sinto
De não saber nem o que digo
Assim que você acordar...

(Cáh Morandi)

outubro 04, 2008

Sobre a nudez


Estávamos nus um frente ao outro. Não nos sentíamos tímidos ou envergonhados. Estivemos assim, despidos, desde a primeira vez. Aonde nenhuma palavra poderia ser duvidosa, nenhum gesto incerto. Nós possuímos uma verdade absoluta: não queríamos mais nada além de uma possibilidade. De uma chance que nos trouxesse a vida novamente. É bom estar nu na frente de quem se ama, nenhuma máscara finge a feição da face, nenhum pano esconde o que o outro já conhece a dedos e bocas. O corpo tenta esconder a alma, mas a alma também está nua, e dançando, na retina dos olhos.



(Cáh Morandi)

outubro 03, 2008

Sobre possuir

(foto: Cáh Morandi)


não nos basta o brilho dos olhos
os beijos doces e delicados
os abraços para dormir
o carinho, o sussurro,
a presença e o cheiro
nem mesmo
os laços invisíveis
que o amor nos envolve
não nos basta
essa raridade
de possuir
o essencial
o imprescindível



(Cáh Morandi)

setembro 29, 2008

take me


não me leve embora
me leve a sério
me leve agora
para dentro
para cama
para uma noite
inteira
para uma vida
passageira
mas me leve
para algum lugar
para algum país
me faz feliz
me faz, me leve



(Cáh Morandi)




setembro 25, 2008

Grão


Quando se é planta, quando se é verde,
pega-se um grão, pequena semente
e deixa numa parte que se supunha
ser da gente, só para ver se germina
depois se cruza as mãos
e põe toda a fé para chover
só para ver se a gente cresce
quem sabe floresce
dentro daquele coração
de repente somos flores,
de repente somos árvores,
de repente somos grama,
de repente ficamos grãos,
mas isso não é motivo de
tristeza ou de frustração
nem todo coração
suporta o nascer de
uma primavera



(Cáh Morandi)

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