julho 08, 2008

Sem face




Abre os braços
Me recebe desmoronando,
Desfalecendo;
Me aperte contra teu corpo
E olhe nos meus olhos se apagando;
Contempla em mim
Essa coisa inacabada que sou
Essa beleza que não tenho
Essa frieza que não quero
Esse desespero em desabar;
Me abrace, me aceite
Sobre tuas pernas
Ainda que eu seja
Essa mulher sem face;
Me enlace, me afunde
Nesse gozo que surge
Ainda que eu pareça
Essa fera sem nome


(Cáh Morandi)

julho 07, 2008

Insolúvel

Se pudesse
Parar o tempo
Seria no instante
Que surgiu como vento

Se soubesse
Domar intento
Seria no mirante
Que avistei sentimento


Ah, se eu pudesse
O teu no meu olhar
Aprisionar naquele momento


Ah, se eu soubesse
Como te fazer eternizar
Além de aqui dentro



(Cris de Souza e Cáh Morandi)

julho 06, 2008

O inesperado




Não há mais nada para acontecer
Nada que não seja previsto
Nada que possa surpreender
Não espanta flores nascendo nas calçadas
Não apavora estrelas novas sendo penduradas
Nem o corpo vencendo a física
Nem o cego lendo mímica
Nem a ciência na sua vã experiência e sua cara de
reticências nas coisas que o amor pode fazer...
O mais impossível era esse encontro
Entre tantos desencontros,
Entre tudo que não tinha nada a ver,
Só tinha que ser você para ser inesperado
E agora que venha o que vier
Porque de resto nada além,
Agora o que vem já é esperado




(Cáh Morandi)

julho 05, 2008

Ver no olhar




Eu gosto de ver a vida. Gosto de vê-la acordar e perto de adormecer. Gosto de vê-la desvendar e esconder, mas principalmente gosto de vê-la nos olhos de outro alguém. Vejo ternura nos olhos de minha mãe. Vejo paciência nos olhos do meu pai. Vejo esperança nos olhos de meus irmãos. Vejo doação nos olhos de meus amigos. Nos olhos do meu amor eu vejo a parte de mim que não conheço, vejo o lado amável, afável e amoroso que ao largo do caminho fui deixando, e é ele e esses olhos recheados de todas as estrelas do céu e do mar, que me devolvem a doçura, a candura e a delicadeza que andavam adormecidas.



(Cáh Morandi)

julho 03, 2008

Em tudo




ele não está por perto
é um abraço no deserto
é a solidão me dando um abismo
é puro egoísmo do meu coração
que não compreende
que de mim desprende
e quer voar sem ter asas
te procurando em todas as casas
em todas as coisas
em tudo que tem
em tudo que vai e vem
em tudo que fica
em tudo que chega
em tudo que palpita
em tudo que duvida
que possa te encontrar




(Cáh Morandi)

junho 26, 2008


pelas saudades que virão
nesse poema eu faço
um apertado abraço
para os dias de solidão



(Cáh Morandi)
O amor é alguém que a gente não tem
e às vezes tem, mas nem desconfia disso

Auto Leitura


e se tudo o que eu sou
ou seja lá o que fosse
já estivesse publicado
carimbado, editado
e distribuído?
não, eu não seria
um best seller
e você nem havia de
ter me conhecido,
ou se conhecesse
nem graça teria,
você já saberia tudo
do meu passado e futuro
até as coisas que eu nem sei
por que devem ter acrescentado.
ah, ai, se me conhecessem
num estudo bibliográfico!
hum, que fracasso
ninguém me compraria!
melhor, eu prefiro é doar poesia,
doar essa coisa que eu sinto
e que transborda...
alguém entenderia,
e veria beleza nas entrelinhas!
ah, eu sou tão pequena...
mas se o universo todinho
cabe dentro de um verso,
eu posso ser ao inverso,
posso ser grande,
posso ser perto
de tudo que quero



(Cáh Morandi)

junho 25, 2008


"Se escrever for coisa lá de baixo
que Deus perdoe meu lado errado
e me receba quando for meu dia
prefiro morrer fazendo esse pecado
do que viver sem nenhuma poesia"


(Cáh Morandi)

junho 24, 2008

Além do riso



era como ele me fazia rir
não o riso, mas era como
ele me afundava as mãos
e me torturava de cócegas
nunca foram as gargalhadas
era essa maneira única em
que ele me tirava todo ar
e me matava por um triz
era como me fazia tão feliz
antes e depois de um sorriso



(Cáh Morandi)

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