só por um momento eu desejei fechar meus olhos
em tantas voltas que o mundo fez para mim
(por um segundo eu quis estar mais perto)
senti vontade de estar por dentro das memórias
e de nunca mais tê-las que abandonar por um futuro;
o que a gente sente, o que a gente foi
nunca deveriam nos deixar
há uma dor enorme em ter sido... em ter feito...
em se ter sentido...
e nunca mais retornar a tudo isso
as pessoas estão sempre em silêncio
eu escrevo, olho o céu, penso
e cada nova palavra é um desafio
que depois de terminada já se torna
parte de tudo que não poderei ter de novo;
nem todos os dias de outono são quentes como hoje
e é isso, talvez, que tenha me aquecido as lembranças ternas
ter do que se lembrar não nos remete a fotografias e vídeos
nem a memória viva da face daqueles que amamos
embora isso possa parecer egoísmo,
mas uma saudade forte, é ainda poder saber
a intensidade de como nos sentimos naquele momento
em que tudo isso fez parte de nós;
de lembrarmos o nosso arrepio no corpo de quando
conhecemos nossos amores que partiram;
a forma que nos sentíamos quando os víamos dormir,
quando os beijamos, quando fomos quase únicos;
saudade que faz falta é quando nos olhamos ainda
na infância, brincando em balanços e parece que o vento
nunca parou de tocar a face e de levantar nossos cabelos;
então a saudade não está em lembrar...
saudade é ainda poder sentir
(Cáh Morandi)