Não feche os olhos
Enquanto me ama
Deixe-os abertos
Olhos espertos,
Repletos de fome
- Cáh Morandi -
Se me questionam sobre a beleza, logo uso a frase pronta: “ A beleza está além dos olhos!” E assim é. A real beleza está muito além de um corpo bonito e sarado ou sem nenhuma deficiência. As pessoas deviam começar a enxergar de dentro para fora, daí, quem sabe, havia menos sofrimentos naquilo que chamamos de “amor”.
Começaríamos nos apaixonando pelo humor, pelos sentimentos, pelas sensibilidades, pelo comportamento.
Depois a gente devia sentir. Sentir o cheiro, o toque, os fios de cabelos, a textura da pele.
Em seguida deveríamos ouvir sua voz, seus planos, como é a pessoa cantando, verificar se o timbre muda durante o dia.
Todo mundo devia antes conversar sobre tudo e durante muito tempo. E só depois de tudo sentido, ouvido, tocado, falado é que deveríamos então abrir os olhos. E a beleza há de estar ali. Aquela que importa, aquela que vale acordar e dormir até o último dia de sua vida.Para os que serão capazes de fazer esse experimento o feio e o inútil nunca existirão.
A beleza, invariavelmente, está naquilo ou naqueles que a gente verdadeiramente ama (e principalmente conhece).
- Cáh Morandi -
Meu choro é uma flecha
Que rompe a noite entristecida
Deslizante e fria lágrima
Surgindo dos olhos,
Caindo sobre a face,
Mergulhando no vazio de minhas mãos
Deve chorar quem dor sente
E se não sente, não há amor
Se do céu estrelas nascem
Esperançosas, se jogam as cadentes.
Todo corpo é um astro ardente
Que de desejo inflama e queima
A noite, então, é duas,
Duas luas num só céu,
De uma lado está quem chora
Do outro quem ri e dorme em paz.
Há dois corações separados
Em dois peitos, um só amor
A lágrima sempre persiste
No sentimento em bom momento
Ou na falta de um outro alguém
E descubro que posso parar agora
Mesmo nesta noite em que fico
Há uma lua (talvez duas) radiando luz.
- Cáh Morandi -
Tem muita coisa em mim
Que tem saudade...
Meus pés, por exemplo,
Gostavam de brincar
Dentro da banheira com os teus
Meus olhos, sempre atentos,
Observavam os teus
Nos movimentos do amor
Tuas mãos, tão pequenas,
Tremiam e suavam
Na curva de minha cintura
São pelos pequenos momentos
...Que a gente quase morre
...Que intensamente vive
...Que longamente espera
- Cáh Morandi -
Eu sou como um rio
Repara que fortes afluentes
Águas densas e revoltas
Doce sal, agridoce,
Meu sul, meu sal,
Oceano, vertente
Em que lado morro?
Em que lado nasço?
Sou um rio que não acabo
Que meu destino sigo
Para beijar outro rio
E quando a chuva cai
A recebo num abraço
Onde as gotas novas bebo
Meu ciclo refaço
Eu sou como um rio
Muito longo e comprido
(Quem dera ser mar,
Largo, tão perto do anil,
Talvez um tanto infinito)
- Cáh Morandi -