julho 03, 2007

Sob o fio, sob o corpo



E um dia quando eu dormisse
No fio da navalha afiada do teu corpo
Queria render-me sem medo de descansar
Escorre-me sobre o peito a gota de suor duvidosa
Entre as curvas sinuosas de meus seios
Sem saber ao certo até onde pode ser levada

E um dia quando eu dormisse
No fio da navalha afiada do teu corpo
Pudera eu não ter receio de fechar os olhos
Pensando que podes fugir ao meio da noite
Vai que eu sinta frio durante a madrugada
E terei que inventar fogueiras no quarto.

E um dia quando eu dormisse
No fio da navalha afiada do teu corpo
Que minha fragilidade seja mais forte, mais firme
E que se não se desfaça diante da tua rigidez
O amor anda tão próximo do silêncio
Que eu te pediria para fazer silêncio comigo

(Um dia em que dormisse no fio da navalha,
Um dia eu amanhecesse sob o peso de teu corpo)


( Cáh Morandi )

julho 02, 2007

Mais que três palavras


A questão não é só falar: Eu te amo.
Eu só queria explicar que quando eu digo isso (Eu te amo), não são somente três palavras sem nexo ou soando o ar de ser algo tão natural e não profundo. Há muitas coisas por trás dessas letras, muito mais do que comportaria minha própria existência. Quando digo Eu te amo é porque eu lembro de todas as vezes que nos amamos, dos presentes trocados, dos passeios que fizemos, das tardes que conversamos, dos filmes que assistimos, das vezes que você cantava ao meu ouvido, dos nossos banhos, dos nossos planos de salvar o mundo.
Quando digo Eu te amo é porque quero te pedir um pouco mais de carinho, um abraço que dure por um bom tempo, um pouco de paciência com minha pressa, mais calma com tua ansiedade, ou quem sabe somente um eu te amo como resposta.
Quando digo Eu te amo ele vem carregado de coisas nossas, vem cheio de detalhes, repleto de desejos e saudades.
Então quando ouvires eu dizer Eu te amo, pense em todas as possibilidades que essas três palavras podem significar.

Hoje só queria dizer Eu te amo... compreendes o que quero dizer ?


( Cáh Morandi )

junho 29, 2007

Um dia de Julho


Fico tão presa em meus pensamentos
Que às vezes me pareço com a mobília dessa sala
Termino o ultimo gole de café amargo
E afundo-me mais um pouco nessa poltrona.
Tudo em ordem, cada papel em seu lugar
Meu sapato de salto alto é o único atirado perto da mesa
Releio todos os nomes dos livros que estão na estante
E me prendo a cada detalhe do quadro pendurado na parede
Eu cruzo minhas pernas, ajeito meus óculos,
Mas uma vez a cortina me impede de ver o movimento lá fora
Eu teria uma vida de paz e descanso em dias como esses
Até ficaria alegre de chegar cansada depois do trabalho,
Mas em tudo que tenho feito, cada lugar que tenho ido,
Ou mesmo nesse cômodo agora, há um espaço para tua ausência
Eu já devia ter me acostumado com o quarto organizado
E saber que ninguém vai reclamar se eu ficar horas na janela.
Não sei se eu escrevo para não aparecer na porta de tua nova casa,
Ou para contar quantas vezes no dia eu morro de saudades.

( Cáh Morandi )

junho 28, 2007

Meu poeta que não escreve



Disse-me meu poeta que não escreve:
Tem gosto de paz o amor feito contigo
O teu desenho é de uma deusa posta sobre meu corpo,
Fazes sonhar e agora és tão palpável e humana
Parecendo uma menina querendo adormecer em meus braços
Distante da mulher que há pouco desfez o lençol de minha cama.
Tuas palavras me emudecem quando leio,
Mas te ter é quase impossível não confundir com poesia.
Tão velho eu, tão longe de você minha pequena
Procurando quem me torno quando estou ai dentro de ti.
Eu vou ter vontade de te segurar antes de embarcar naquele vôo
E não sei se é certo deixar-te ali levando tudo teu em mim.

(...)
Não deixou eu falar nada. Beijou-me a testa. Abraçou-me e dormiu.

( Cáh Morandi )

As suinãs - Miro Martins e Cáh Morandi



As suinãs estão florindo avermelhando
Essa tarde de final de outono e eu...
Sinto ânsias que me confundem
Pois ainda não aprendi as conter.
Tenho ímpetos precisosque não consigo deter.
Uma pressa indomávelem fazer e desfazer.
Desejos, que na verdade,
Deveria perder a tarde para rever.
Eles vêm sei lá de onde
E no fundo, não quero nem saber.
Imagino saber fórmulas, mas na verdade
Até hoje não consegui aprender.
Tento colocar as coisas em lugares
Onde sei que não irão caber.
Escrevo poemas apaixonados
Pra quem talvez nunca venha os ler.
Crio expectativas sobre o que nem sei se poderei viver...

As suinãs devem saber que não é primavera
Mas vai ver não precisa dela para aflorar...
Tem horas que as estações me confundem
Parece ser verão, mas pela janela vejo nevar.
Meu instinto tem vontades tão vorazes
Que se eu não tivesse calma, não saberia controlar.
Minhas vontades são tão pecadoras
Que não tem desculpa inocente para inventar.
Precisaria de pouca coisa para me satisfazer
Um dia de sol, mãos dadas, e uma grama verde para caminhar.
Eu só queria que alguém entendesse
Que além do corpo, a alma vem em primeiro lugar.
Eu imagino o céu azul como era na minha infância
Pena que não tenho mais a mesma vontade de voar.
Já pensou se a gente pudesse qualquer coisa, a qualquer hora
E se mais do que a nossa casa, poderíamos em qualquer lugar?
Sou uma poetisa que escreve das coisas nobres,
E tem vezes que sou tão pobre que nem sei nem rimar.
Saiba que também imagino ter uma boa companhia
Mas terei que esperar o dia que tarda... para me apaixonar.

Miro Martins e Cáh Morandi

Nosso tempo




Antes de pensar
Veja meu rosto.
Antes de partir
Sente meu gosto.
Antes de trabalhar
Ame meu corpo.
Antes de acordar
Se despeça no sonho.

Se um dia eu me perder
Deixe que eu me encontre no mapa
Que desenhei em tuas costas
Quase no fim da madrugada.
Se um dia eu me perder
Não deixe de lembrar das coisas nossas,
Nos livros de Bach, nas tardes de bossa,
Dos dias de silêncio, do nosso amor em prosa.

Depois do cansaço
Descanse do meu lado.
Depois do medo
Lembre que sou teu porto.
Depois do desejo
Sele o amor em teu peito.
Depois do tempo
Vem comigo para onde eu for...


( Cáh Morandi )

junho 26, 2007

O mundo através de você



Eu sempre olho o mundo através de você
É por isso que devo vê-lo de uma forma bonita.
Tem dias que uma multidão toda grita,
Mas seria fácil reconhecer sua voz dentre todas elas.

Eu sempre olho o mundo através de você
Não há dias nebulosos e nem chuva inesperada.
Desculpe se você tem sido meus olhos,
Mas só assim pude embelezar a tristeza e descobrir a poesia.

Eu sempre olho o mundo através de você
Desde aquele dia que um anjo traduziu o bater de meu coração.
Ao menos lá fora é uma tela ainda com tinta fresca
Cheirando a lírios recém colhidos em boa época.

Eu sempre olho o mundo através de você
Porque bem mais que a visão, me permites os sentidos todos.
Enquanto permaneces sentado nesse banco dourado de primavera
A realidade parece um sonho que posso tocar acordada.

( Cáh Morandi )

Vestígio de Memória


Tudo que lembro já caberia no tempo que demora
Uma folha desprender-se da árvore e cair no chão.
Vês como eu mesma me engano, imaginando,
Pensando que nosso amor era de todo tamanho.
O homem que vejo estar em teu lugar agora
Não é o mesmo com quem um dia eu sonhei.
Garanto que teus lábios já não tem o gosto doce
E que teu caminhar perdeu a direção de outra hora.
Sinto que não te amo mais, talvez não tanto como aquele dia
Que me desses a mão para caminhar no Ibirapuera.
Não te amo tanto, talvez não da forma tão sincera como falei
Naquele café da manhã deliciado a capuccino e pão de queijo.
Me perdoe se meu amor já não é mais como antes,
Mas é que tu também já não és o homem que amei.
Aquele que me fazia rir contando uma piada sem graça,
Ou que me encantaria dividir a banheira no banho.
Eu não sei se foi você que foi pro lado errado,
Ou fui eu quem ficou no mesmo lugar te esperando.
Não vou falar mais nisso, tua lembrança em mim está se apagando
Mal lembro teu toque, pouco escuto a nossa música.
Como é engraçado, dois humanos que eram tão apaixonados
Pegarem caminhos separados, perderem seu próprio chão.

( Cáh Morandi )

junho 25, 2007

Um pedido para ficar

Desfez meu corpo seguro
Com o vento da sua boca
Soprado em minha nuca.
Mais do que ninguém na vida
Conheces todo o meu contorno
Parecem sido feitos por tuas mãos.
Fizeste dos dias que passei
Caminho repleto de diamantes
És amado, meu amante, de meus versos.
Agora sei que há dias largos
Em que sol não se põe no tão longe
Mas descansa dentro de nós.
Sabes aquele fio aquarela no horizonte?
Quando não estás por perto é lá que moro
Porque foi onde me puseste certa manhã.
Guardes bem a chave que sela teu coração
Eu já pulei a janela que atravessa tua alma
Se pedes e posso: agora quero ficar aqui.

( Cáh Morandi )

junho 22, 2007

Das insignificâncias da vida



Bastava o perfume que os cabelos deixavam nos travesseiros
E aquele beijo trocado em plena tarde de uma segunda feira agitada.
Bastava aquela conversa sobre um assunto sem nexo no café da manhã
E as gargalhadas do ser amado vendo TV em plena madrugada.
Bastava estar abraçados e ainda deitados num dia preguiçoso
E implicarem antes de um passeio por causa de uma saia minúscula.
Bastava mesmo que fosse uma briguinha antes de começar o dia
E você ficar pensando o dia todo em alguma forma de reconciliação.
Bastava que ele chegasse, mesmo esquecendo das compras da semana
E que ela te perguntasse a cada minuto se você a amava.

(...)
São essas pequenas horas que se descobre ter sido feliz,
Mas isso é coisa que demora uma vida toda para se perceber.

( Cáh Morandi )

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