junho 28, 2007

Nosso tempo




Antes de pensar
Veja meu rosto.
Antes de partir
Sente meu gosto.
Antes de trabalhar
Ame meu corpo.
Antes de acordar
Se despeça no sonho.

Se um dia eu me perder
Deixe que eu me encontre no mapa
Que desenhei em tuas costas
Quase no fim da madrugada.
Se um dia eu me perder
Não deixe de lembrar das coisas nossas,
Nos livros de Bach, nas tardes de bossa,
Dos dias de silêncio, do nosso amor em prosa.

Depois do cansaço
Descanse do meu lado.
Depois do medo
Lembre que sou teu porto.
Depois do desejo
Sele o amor em teu peito.
Depois do tempo
Vem comigo para onde eu for...


( Cáh Morandi )

junho 26, 2007

O mundo através de você



Eu sempre olho o mundo através de você
É por isso que devo vê-lo de uma forma bonita.
Tem dias que uma multidão toda grita,
Mas seria fácil reconhecer sua voz dentre todas elas.

Eu sempre olho o mundo através de você
Não há dias nebulosos e nem chuva inesperada.
Desculpe se você tem sido meus olhos,
Mas só assim pude embelezar a tristeza e descobrir a poesia.

Eu sempre olho o mundo através de você
Desde aquele dia que um anjo traduziu o bater de meu coração.
Ao menos lá fora é uma tela ainda com tinta fresca
Cheirando a lírios recém colhidos em boa época.

Eu sempre olho o mundo através de você
Porque bem mais que a visão, me permites os sentidos todos.
Enquanto permaneces sentado nesse banco dourado de primavera
A realidade parece um sonho que posso tocar acordada.

( Cáh Morandi )

Vestígio de Memória


Tudo que lembro já caberia no tempo que demora
Uma folha desprender-se da árvore e cair no chão.
Vês como eu mesma me engano, imaginando,
Pensando que nosso amor era de todo tamanho.
O homem que vejo estar em teu lugar agora
Não é o mesmo com quem um dia eu sonhei.
Garanto que teus lábios já não tem o gosto doce
E que teu caminhar perdeu a direção de outra hora.
Sinto que não te amo mais, talvez não tanto como aquele dia
Que me desses a mão para caminhar no Ibirapuera.
Não te amo tanto, talvez não da forma tão sincera como falei
Naquele café da manhã deliciado a capuccino e pão de queijo.
Me perdoe se meu amor já não é mais como antes,
Mas é que tu também já não és o homem que amei.
Aquele que me fazia rir contando uma piada sem graça,
Ou que me encantaria dividir a banheira no banho.
Eu não sei se foi você que foi pro lado errado,
Ou fui eu quem ficou no mesmo lugar te esperando.
Não vou falar mais nisso, tua lembrança em mim está se apagando
Mal lembro teu toque, pouco escuto a nossa música.
Como é engraçado, dois humanos que eram tão apaixonados
Pegarem caminhos separados, perderem seu próprio chão.

( Cáh Morandi )

junho 25, 2007

Um pedido para ficar

Desfez meu corpo seguro
Com o vento da sua boca
Soprado em minha nuca.
Mais do que ninguém na vida
Conheces todo o meu contorno
Parecem sido feitos por tuas mãos.
Fizeste dos dias que passei
Caminho repleto de diamantes
És amado, meu amante, de meus versos.
Agora sei que há dias largos
Em que sol não se põe no tão longe
Mas descansa dentro de nós.
Sabes aquele fio aquarela no horizonte?
Quando não estás por perto é lá que moro
Porque foi onde me puseste certa manhã.
Guardes bem a chave que sela teu coração
Eu já pulei a janela que atravessa tua alma
Se pedes e posso: agora quero ficar aqui.

( Cáh Morandi )

junho 22, 2007

Das insignificâncias da vida



Bastava o perfume que os cabelos deixavam nos travesseiros
E aquele beijo trocado em plena tarde de uma segunda feira agitada.
Bastava aquela conversa sobre um assunto sem nexo no café da manhã
E as gargalhadas do ser amado vendo TV em plena madrugada.
Bastava estar abraçados e ainda deitados num dia preguiçoso
E implicarem antes de um passeio por causa de uma saia minúscula.
Bastava mesmo que fosse uma briguinha antes de começar o dia
E você ficar pensando o dia todo em alguma forma de reconciliação.
Bastava que ele chegasse, mesmo esquecendo das compras da semana
E que ela te perguntasse a cada minuto se você a amava.

(...)
São essas pequenas horas que se descobre ter sido feliz,
Mas isso é coisa que demora uma vida toda para se perceber.

( Cáh Morandi )

Em tempo



Eu não devia perguntar, mas...
Pensas também naquela tarde?
Não, não diga nada!
Eu sei que pensas...

Eu não devia responder, mas...
Já não penso com tanta vontade.
Não, não direi nada!
Tu sabes da verdade...

Eu não devia nos castigar, mas...
Que sentido tem o amor que não é nosso?
Não, não falaremos de novo!
Nós sabemos da dor que têm as dúvidas...


( Cáh Morandi )

junho 21, 2007

Versinho


Banho recém tomado
Eu ainda com o ser molhado
E os cabelos cacheados
Exalavam o cheiro da flor do maracujá.
Espalhei pelo corpo o óleo castanhado
No espelho refletia meu contorno gracejado
Hoje eu cometeria um pecado
Estás em tempo de chegar ?


( Cáh )

Se fosse uma escolha

Eu poderia ter gostado de um homem da minha idade, alto, moreno e olhos claros, que mora quase do meu lado e que me trata muito bem. Ou poderia ser aquele cara que me ama, que diz que sou uma princesa, que lê todas as minhas poesias e que me levaria a qualquer lugar do mundo... Mas vai saber porque o coração da gente não obedece, que é justamente quem não deve que ele decide gostar. É logo por quem não te ama (nem nunca vai te amar), que nem te olha, que te ignora e que mora longe... A gente vive amando a pessoa errada, na hora mais errada ainda, mas não quer desistir de acreditar de que poderia ter dado certo... Dizem que sou louca por amar alguém assim tão oposto de mim, não é porque quero, mas vai dizer isso ao meu coração! Vai me pedir para esquecer aqueles beijos todos, do contorno de seu rosto, das poesias que ele me fazia escrever pela manhã. Como esquecer aquele peito onde eu deitava, daqueles braços em que eu me esquentava... da face, do gosto, do perfume, do desenho do corpo do homem que eu amei.

( Cáh Morandi )

junho 20, 2007

Das coisas que me prendem


Pelo menos eu sei o que é ter um coração apertado
Que quase nem respira por carregar tantos sentimentos.
Posso não saber das novidades do novo mundo
Ou de qualquer novo escândalo que está sendo comentado.
Não saber se chove lá em alguma cidade do oriente
Ou se aqui na minha casa está chegando um tufão.
Há coisas que não me prendem ao pensamento
E que posso saber sem tem porque me preocupar.
Me importa saber se teus olhos estão com céus claros
Ou se preciso te levar um guarda-chuva se chover.
Me preocupa se a estrada que andas não esteja esburacada
E se a paisagem vai ser uma pintura se quiseres sentar na sacada.
Não quero que repouses sobre as partículas do relento
Posso virar suave vento para te aconchegar.
Há coisas que prendem meu pensamento,
E que quero saber, porque preciso me preocupar.
Não sei em quanto fechou a bolsa de valores
Até porque meu tesouro está depositado em outro lugar.
Inútil me perguntar da minha conta do banco
Penso que há coisas bem mais valiosas para mim cuidar.
Há coisas que passam a toda hora em meu pensamento
Já bem sei o que sinto, não devo mais me preocupar.

( Cáh Morandi )

Chiii!



Ninguém precisa saber o que fizemos
Ou o porque das nossas roupas amarrotadas.
Deixe que pensem o que quiserem,
Que sintam inveja de ousarmos corrompido o certo,
E que julguem ser errado esse paganismo divino.
Que sejamos loucos a toda hora,
E que me penetres mais fundo que a raiz na terra
E me entres porta a dentro sem pressa de sair.
Depois da madrugada, o sol rompia o dia,
Meus cabelos alvoroçados e com o cheiro da manhã,
Teus lábios carregados com o gosto do romã.
Eu cansando a voz de tanto dizer baixinho:
- Me ama, me ama, me ama...
(Cáh Morandi )