nunca fui
tão feliz
deveria ser assim
toda vez ao falar de
uma história de amor, mas
eu nunca fui
tão feliz
também falam de uma história, talvez não de amor
Cáh Morandi
deixei de ser teu amor,
desisti de salvar para ti as memórias, para me sustentar umdevia estar atenta de que
os nossos desejos podem
acontecer, mas como poderia
lembrar?
eu disse: “me esqueça, nunca
mais me ligue”. assim aconteceu.
raiva de ti, raiva de mim por ter
que me convencer que o amor
acata ordens de alguém
gritando em desespero
não me parece certo,
tu ou o amor podiam
revoltar-se contra mim?
quebrem as minhas
regras
Cáh Morandi
você pode fechar a porta
quando, enfim, sair?
bata, devagarinho, mas
o suficiente para que eu
escute da cozinha ou
do quarto, faça barulho
por favor, deixe a chave
cair, tropece no vaso de
espada de São Jorge,
assobie para o cachorro
do vizinho que sempre está
em volta, mas não deixe o
silêncio na tua partida, não
desligue a música na tv,
não desligue o chuveiro, não
tire a panela de pressão do
fogo, não saia pela porta
dos fundos, não vá sem
dizer qualquer palavra desse
amor que foi repleto de
poesia
Cáh Morandi
certas coisas não cabem no poema, nas músicas,
nas palavras, nos gestos, na contenção
criada socialmente para nos dizer: até aqui se pode sentir.
não dá. ando sentindo de uma maneira incabível
em mim, em minhas relações com o mundo,
estou com o coração acelerado, estou com o corpo
em milhões de desintegrações, estou flutuando
tão leve, que sou quase nada.amo estar na minha presença,
dançar com os dedos nos traços
da minha idade, descansar
as mãos em meu cabelo e
acariciar meu cansaço,
cantar as músicas que invento
na voz disritimada das manhãs,
ver o contorno das minhas pernas
se cruzando com minha coragem
de permanecer dançando nas curvas
imprevistas que a vida dá
reunindo as minhas muitas
histórias, vou me compondo
de um futuro de tudo que
intencionalmente não sei
sobre mim
Cáh Morandi