Foi em que traço,
personalidade? Em que noite, madrugada se endereçou? Em que face foi mesmo que
o amor ficou? O amor sempre será esse lado menos exposto, arranhado no corpo,
com ares de futuro. Se entrega à próxima composição, mas segura os sinais. Desabotoa
represas, mas encolhe os canais. Suspenso-lento-ardendo. O amor sempre será
esse teu lado que não desemboca, que não vem à tona, que não vale meu sopro,
minha noite, minha pena, meu poema. Não diz, não age, é inerte, insosso,
imaturo, indeciso, impreciso ao que preciso, agora. Quanto mais abandona, mais
me encontra: providencial; um lado meu que só renasce porque te espera.
Acredita ainda, e envelhece. Renasce porque te melhora. Renasce para que no
ventre dessas entregas, uma palavra pequena aborte as próximas distâncias. Uma
palavra só, ou uma ponta de coisa-qualquer que valesse uma poesia. O amor
sempre será esse hiato que não se desenvolve. Essa pedra que onda bate e não se
dissolve. O amor sempre será alguma coisa sua, que não me resolve. Que não absorve.
Que não me suga. Que não me seca para que eu me molhe. Que não te recomeça. Que
não te escolhe. O amor te acena. Agora temos pressa.
Cáh Morandi & Priscila Rôde