não me leve embora me leve a sério me leve agora para dentro para cama para uma noite inteira para uma vida passageira mas me leve para algum lugar para algum país me faz feliz me faz, me leve
Quando se é planta, quando se é verde, pega-se um grão, pequena semente e deixa numa parte que se supunha ser da gente, só para ver se germina depois se cruza as mãos e põe toda a fé para chover só para ver se a gente cresce quem sabe floresce dentro daquele coração de repente somos flores, de repente somos árvores, de repente somos grama, de repente ficamos grãos, mas isso não é motivo de tristeza ou de frustração nem todo coração suporta o nascer de uma primavera
Nunca soube o que fazer com os espaços que ficam depois que alguém vai embora uma dúvida insiste e de tanto, o meu tentar desiste de trocar a ausência por qualquer coisa que fira menos: nada para repor nada para suprir nada que realmente comportasse o encanto de algo que ficou para trás
(Cáh Morandi)
setembro 18, 2008
e quem diria que o amor se fazia à meia luz de uma madrugada que sorria?
ah, quem pensaria que amor é só poesia a meia noite de uma lua clara que amanhecia?
Cai uma chuva gelada por trás da vidraça. Os dedos dos pés impacientes dentro da meia de lã, as mãos se aquecendo com a xícara de café, os lábios sendo mordiscados com os dentes, um pijama velho, um moletom jogado em cima, os cabelos bem amarrados, os olhos pequenos e perdidos acompanhando o desenho que água faz no vidro da janela.Não me importo em estar assim despojada, só quero me sentir o máximo bem que puder, embora seja improvável isso acontecer em uma noite de sexta, quando o fim de semana chega e você não tem ninguém. Ninguém que vá te abraçar enquanto a chuva cai lá fora. Ninguém que vá acalmar a tempestade que acontece dentro de você. Ninguém que vá te dar a mão quando você tem tanto receio de estar sozinha. Ninguém que ficaria ali, de graça, deitado ao teu lado escutando os trovões. Por um instante você pensa que isso é tão triste, que isso pode ser tão miserável e o amor parece ser uma esmola que você pede em troca de um sorriso, por mais falso que isso pareça. Frágil, o barulho da chuva viola o silêncio do pensamento, da lembrança, da doce ignorância em planejar o futuro. Você tem medo, porque você vê que tem tanta lágrima por dentro, escondida, calada, tímida e um dia chuvoso e frio é tão pouco comparado a tudo que você esconde atrás de um rosto discretamente limpo e doce.
Quanto tempo se tem para amar alguém que a gente não amou ainda? Alguém que a gente esperou tanto quase toda uma vida só para poder ver e estar? Tantas horas vamos perder só no encantamento de se olhar de admirar a beleza que criamos... Tanto silêncio para dizer o que valerá por anos e tanto, e tanto, e tanto do tudo que ainda virá
Sentir o ar que o outro solta e os seus pêlos se arrepiarem e seus pensamentos se fracionarem em pequenos gestos de amor tudo para nem pensar em ir para cama... amar estava sendo aquilo: a admiração e beleza de se encontrar.
Nunca consegui enumerar todas as coisas que eu gostava e as que você me fazia sentir. Primeiro, porque eram muitas. Segundo, porque algumas não tinham nome. Éramos extremamente felizes porque acreditávamos no amor, porque de início não víamos nada de empecilho, não víamos distancias, sejam de idades ou sejam de cidades, nós apenas vivíamos aquele presente que a vida parecia nos dar. E quando começaram surgir os planos, os sonhos, e fomos dando nomes para eles, a dar local e datas, e eu, então, parecendo um foguete a voar pelo céu de felicidade, vi você se afastando, medroso, inseguro. Mas que direito tinha eu de te fazer estar comigo todos os dias de amanhã? Que direito tinha eu de amarrar tuas mãos com a minhas? Não precisavas ter medo, tu não tinhas que arranjar uma forma de fazer tudo acontecer, tua única obrigação era me fazer sonhar.